OS ESQUECIDOS
“Não me esqueça nunca
cidade marítima,”(Ribeiro Couto)
Utilizo-me das palavras do nosso poeta cordial,aqui tão
intimista,demonstrando todo seu amor,para dar início e esta crônica acerca da
recente comemoração do aniversário do Porto de Santos.
A nossa memória, por vezes tão arredia,sofre golpes
conscientes ou não da ação do tempo e de circunstâncias oportunistas.
Merecida homenagem se prestou ao Porto de Santos, pelos
seus 120 anos. Berço do desenvolvimento econômico do país e no momento grande
pólo de turismo marítimo. Certo!A imprensa deu cobertura máxima, não só na
esfera municipal como na estadual. Exaltaram com ênfase,as grandes empresas
responsáveis pelas transações comerciais de bens e insumos. Exposições de
fotografia,visitas monitoradas,etc. Tudo perfeito!!!
Mas eu pergunto: Por que não aproveitar um acontecimento
deste porte relacionando-o à nossa história literária?
Afinal, nosso Ribeiro Couto, a exemplo do Narciso de
Andrade,demonstraram todo seu amor à cidade, através do porto. Ou porque
passaram a infância nas proximidades, ou porque habituaram-se com as idas e
vindas constantes de navios de todos os lugares do mundo.
À medida que cresciam com esta vivência, se
sensibilizaram com o elemento humano a serviço do Porto, quer direta quer
indiretamente, tudo como pano de fundo da sua poética,sedimentada com muito
lirismo e nostalgia.
Afinal sem o trabalho e o empenho humano, nada seria
possível.
Homens comuns, rudes, boêmios, mulheres de vida fácil,
comerciantes e tantos outros personagens ganharam vida na obra destes poetas.
Como fazer com que as novas gerações,em sua grande parte
proveniente de outras localidades, adquiram amor à terra que os
acolheram, se não conhecerem o olhar daqueles que mais divulgaram as nossa
belezas e peculiaridades. Eu, por exemplo, forasteira nesta terra, ao me
deparar com a obra destes autores, passei a me encantar com o passado guerreiro
dos trabalhadores do porto.
Se não pelos jovens, façamos mais pelos nossos
escritores, nem que seja como um tributo merecido pela grandeza de sua obra.
Pois é difícil reconhecer que as palavras de Narciso de Andrade sobre o
companheiro Ribeiro Couto,cada vez mais tornam-se uma realidade: “A Santos que
o poeta viveu não existe mais. Não se sente hoje aquela vibração constante das
ruas do centro. Mudou a paisagem urbana e mais ainda a paisagem humana... Mudou
esta nossa querida e desfigurada cidade. Mas a gente pode senti-la
inteira na palavra em prosa e em verso deste poeta maior que assinava suas
cartas do Alentejo como o Caranguejeiro Ruy”.
CORA, UMA MULHER DO MUNDO
Com
humildade traçou a vida.
Com
afeto adoçou as mesas.
Como
súdita reverenciou a terra.
Goiás,
pedaço de chão tão amado!
De
cada pedra extraia uma poesia,
Nas
águas do rio,banhava a mente.
Nos
becos, toda inspiração!
Das
frutas regionais, todo o sabor!
De
cada semelhante chorava a dor!
De
infância sofrida e rejeitada,
Cresceu
imensa compaixão!
De
uma simples janela
O
mundo todo descortinou...
“Envelhece
feliz a menina
que se encanta com a Coralina”.