(classificado em primeiro lugar pelo júri
popular no concurso literário Rachel de Queiroz pelo Sindjus-DF em 2004). Publicações em diversas antologias de contos e poesias.
Zunga
nasceu em 4 de abril — D. Glória e Sr. Nicolau
não se couberam de tão felizes com o lindo garotinho, fadado a fazer
tantas e tantas pessoas tão felizes. Adora animais e plantas, até conversa com
eles e os ouve.
Se eu for contar tudo, tudo o que Zunga faz, com ou
sem seus amigos — Iuri, Sofia, Clariana e Maurício, agora, em férias escolares
— sempre haverá muito a vasculhar, descobrir.
Já tinha quatro anos, sua mãe saiu ao quintal para
colocar as roupas no varal e o viu bem quietinho, sentadinho, na varanda da
frente. Foi até lá, pé ante pé, para ver o que descobria de tanta quietude —
Zunga estava com uma borboletinha na mão esquerda e a asinha decepada na outra,
tentando recolocá-la na pobrezinha. Não o conseguindo, pegou um talinho bem
fininho de uma das folhas que encontrou no quintal mesmo de sua casa, juntou
com um pedacinho de papel, colou-os com um pouquinho de sabão e tentou uma
espécie de cirurgia na borboleta. Tentou, sim. Tentou muito. E chorava, chorava
tanto...
—
Zunga!? Zunga, venha cá! O que houve? —
perguntou D. Glória.
—
Eu tentei salvá-la, mamãe! Olha só. Ela não vai mais viver. Parece até que ela
quer... (Um soluço, a voz trêmula.) Por que será que ela quer morrer? Eu já lhe
dei uma asa nova, veja só!...
— Zunga, essa asa é muito pesada
para a borboletinha; nada pode substituir a asa que Deus lhe deu — disse D.
Glória, tentando confortá-lo.
Zunga,
totalmente frustrado, saiu pensando em como é que não conseguira consertar a
asa daquela borboleta. Decididamente, ele não sabia. E nem se interessou muito
quando seu pai contava a sua mãe que, ao sair do trabalho, avistou o caminhão
do velho Luís atropelando umas vacas do vizinho que atravessavam perigosamente
as ruas da cidade.
“— Lugar de gado é na fazenda, no
curral, menos na rua.” Afirmou bem convicto o Sr. Nicolau.
Para contribuir apenas, Zunga
arremata, meio distante:
— Também, pai, as
vacas não olharam para um lado e para o outro antes de atravessarem a rua.
Nisso é que dá tanta falta de atenção. Elas têm que aprender a atravessar as
ruas — confirmou Zunga.
Outro
dia, Zunga encontrou, por acaso, um sapinho semimorto, bem na beira da estrada,
que lhe chamou a atenção. Com certeza, tinha sido o caminhão do velho Luís!
O sapinho coachava quase sem forças,
seu papo já nem crescia mais, nunca mais aqueles pulinhos, nunca. É pena,
porque a coisa que Zunga mais ama observar na natureza é o sapo, sua cor, seu
jeitão esquisito, os olhos esbugalhados, a bocarra, sempre querendo comer
mosquitinhos. Zunga, mais que depressa, improvisou uma maca. E o pobre sapo foi
atendido, não tão... a tempo, mas foi.
Então, Zunga pegou o pano de prato
de D. Glória, aquele, o melhor; amarrou-o de um lado a outro em dois pedaços de
galhos de árvore — uma grandona da frente do quintal de sua casa — e pronto! A
maca não podia ser melhor, mais limpinha e perfumada. O sapinho bem que
merecia, repetia Zunga ante as possíveis reclamações de D. Glória. Mas, e
agora? O que fazer? Como agir para, efetivamente, salvar o bichinho? Zunga não
sabia nem por onde começar; olhava para o sapo agonizante, olhava ao redor como
que a buscar algum auxílio, e nada!
Emocionado, o garoto começou a rezar;
porém, sem muita esperança. Foi casa adentro e pegou a primeira pomada que
havia na gaveta da cômoda do quarto de seus pais e... um curativo — não teve
dúvidas — a dor do sapinho com certeza aliviaria. Movimentou-se bem devagarinho
para não chamar a atenção de sua mãe — talvez ela não concordasse com sua
atitude – e foi correndo ao encontro da vítima.
Muito certo do que devia fazer,
Zunga cuspiu na mãozinha e passou um pouco da própria saliva no local
traumatizado, limpando-o bem, depois secou com uma das pontas do pano de prato
que servia de maca e passou a pomada com muita cautela. O mais difícil foi
enrolar o curativo, pois a patinha do sapo estava bem dura e é muito frágil.
Uf! Conseguiu! Que alívio! Por um bom momento o garoto ficou esperançoso do
sucesso de tal operação.
Como era fim de tarde, certamente o
sapo não poderia dormir ao relento, então, surge outro drama para o garoto que
achou muito natural colocar o sapo com maca e tudo sobre seu travesseiro, pois
o travesseiro é macio, e ele não pode sofrer mais dor, o pobre do sapinho.
— Não! Não! E não, Zunga! O que você pensa que isso
é? (Gritou sua mãe, que vinha entrando.)
— Ah! Mãe, é só um sapinho ferido! Ele precisa
tanto de cuidado, só eu posso ajudá-lo. Deixa, mãe, é só hoje. Amanhã ele já
estará melhor e vai poder ir embora. Por favor, mãe! (Argumentou o menino.)
Adiantaria D. Glória discutir com
Zunga? A mãe também se emociona com a bondade do filho, então, sentou-se perto
para ver o que havia. O sapo já estava morto, mas Zunga ainda não havia
percebido. E D. Glória, sempre compreendendo as travessuras do garoto, ensaiou
rapidamente o que lhe dizer.
— Zunga, o sapo também respira como nós?
— Claro! Respondeu, colocando os olhos
interrogativos sobre o bichinho e já, com a respiração arfante, prestes a
derramar toda a lágrima do mundo pelo sapinho, chorou, chorou demais, ao
perceber que o bichinho não mais respirava.
De repente, ouviu a gritaria da turma — Iuri, Sofia, Clariana e
Maurício — chamando-o no portão. “ — E o nosso jogo?” Gritaram todos.
Zunga
adorava conversar, brincar com eles, correr todo o quintal... E o time de
futebol, então? Que bom que era! Tudo voltou ao normal na vida de Zunga, e ele
tinha tanto que contar aos amiguinhos...! Contou mesmo tudinho.
Agora,
no jogo de futebol, cada vez um vencia; não, propositalmente, é claro — assim,
não havia nenhuma rixa entre os amigos atletas; apenas, muita brincadeira,
muito riso, muitos chutes a gol. O jogo foi disputado com muita garra. Depois,
foram tantos e tantos jogos, tantos e tantos gols que nem viram que já era
tarde...
Comentários
gostei muito de seus texto.
Jorge Nascimento
parabéns pelo desenrolar da história...
Marcos Pedro Saraiva