O PÃO NOSSO DE CADA DIA: A VIOLÊNCIA (E curtas meditações sobre a Olimpíada) ** EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
O PÃO NOSSO DE CADA
DIA: A VIOLÊNCIA
(E curtas meditações
sobre a Olimpíada)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Talvez viva me repetindo.
Por que ninguém escuta?
Somos fruto de nossas obsessões.
O tema sobre o qual quero refletir é a Violência.
A antropóloga Miriam Goldenberg, em coluna de jornal,
transcreve depoimento de um músico de 47 anos:
“Eu também morro um pouco junto com todos que estão sendo
assassinados, roubados, estuprados. Perdi a esperança de que o Brasil renasça
das cinzas e podridão. Costumava acompanhar obsessivamente todas as notícias
dos jornais e televisão. Agora não aguento mais ouvir casos e mais casos de
violência e de corrupção. (...) Sinto uma angústia enorme, uma impotência, uma
espécie de ressaca física e emocional. (...)
A antropóloga traz também palavras de uma professora de 53
anos: “As pessoas estão muito mais agressivas. São violências diárias,
cotidianas, sem qualquer motivo. Um vendedor que me trata mal, um aluno que me
ignora, um colega que me desrespeita. Motoristas que me cortam e me xingam, um
ex-marido que só me critica e desvaloriza. A falta de reconhecimento é também
uma violência. (...) O clima de violência, roubalheira e desrespeito é tamanho
que afetou todo mundo. Todos que conheço estão muito irritados, intolerantes,
violentos. Está muito difícil sobreviver no meio de tanto violência”.
Eu sei: é uma violência globalizada, cada vez mais absurda.
E falo da minha “rua” (o Brasil) porque A VIDA É UM ASSUNTO LOCAL.
E alguém me liga
contando que seu pai (pobre) morre de câncer, que já afetou todo o organismo,
porque na cidadezinha do interior do Nordeste em que mora não há hospital, não
há remédios, não há nada. E quando levam um doente para uma lugar maior é em
“pau-de-arara”, balançando. O doente de 74 anos desistiu. Quer ter, pelo menos,
o direito de morrer na humilde casa em que vive. É um brasileiro – como nós.
Pessimismo? Não vou atribuir à tecnologia. Seria
facilitário: nem tenho celular, mas minha mulher mostra as mensagens recebidas
(muitas belas e edificantes, de amigos e
parentes queridos).
Mas pelo que falam,
nas redes sociais (ou antissociais?) predomina o dogmatismo, o fundamentalismo,
o xingamento. Se “ele” não concordar comigo é meu inimigo. Ou palavrões.
Escassa leitura. Debates esclarecedores e civilizatórios? Não.
Chegamos a um ponto muito ruim. Perdoem a nostalgia: mas
recordo (falo com absoluta sinceridade) nos grandes debates estudantis da
década de 60, dos quais participei ativamente, vindo da esquerda católica (AP-
Ação Popular) havia leitura, cultura. Era a esperança. Fé na vida – gosto de
proclamar.
Ainda assim, com a
palavra, é preciso resistir à brutalidade, ao engodo e à mentira.
OLIMPÍADA
1) Alguém reclama em carta para um jornal: “É revoltante
saber que alguns atletas olímpicos das décadas de 1970 e 1980 não foram chamados para conduzir a tocha.
Enquanto isso pessoas que nada contribuíram para o esporte, como artistas,
músicos e apresentadores, fizeram-no por pura vaidade”.
2) No dia em que chegou ao Estado do Rio, o revezamento da
tocha olímpica foi interrompido devido a fortes protestos no município de Angra
dos Reis – relata a “Folha de São Paulo” de 28 de julho.O batalhão de choque
usou bombas de gás para conter os manifestantes.
Razão do protesto? Criticava-se os gastos do município,
comandado pelo prefeito Conceição Rabha do PT (mas para não parecer “marcação”,
poderia ser de qualquer partido) para receber a tocha enquanto salário dos
funcionalismo estão atrasados.
Fui “azedo”? Desculpem. Mas – perdoem o lugar comum – continuo acreditando na força da Palavra, em músicas que me elevam –
escuto agora Villa Lobos – e permanece a Fé na Vida. Alvíssaras!
postagem enviada pelo autor (Brasília, julho de 2016)
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