(*“Chegada”, em “Mingau das Almas”, Vieira Vivo, p.
13)
texto baseado em alguns versos
Escrevia os poemas, elencava olhares congestos de
algo que regula o amor, intentava simular — amores nunca sentidos, entanto
havidos, conhecidos. Quantas eram as mulheres que o amaram? Teriam amado?
Esqueceram? Ignoraram? Desejos, insepultos.
Vida, em algum tempo razoável.
A dor da primeira perda o afugentara de mulheres
quantas. Olhos de sementes1,
revirantes. Outra separação. Mais. A segunda viuvez provou-lhe que melhor, mais
seguro, ocultar nomes, senão o emprego de iniciais apenas. Agá de Helena,
Helga, Heloísa, Hortênsia, Herotildes, Hilca, Hisa, Huda? Este poema é endereçado a mim? Geme
montada em pelo/devorando a mocidade2.. Olhar desconfiado.
Poesia é para ser escrita, sentida, lida, tocada, ouvida, recebida, assobiada,
suspeita. Que importa? Quem? Pensamentos
solteiros. Cê de Célia, Cíntia, Clotilde, Carla, Cássia, Carolina, Carmen? Cláudia! Ensina minha boca a calar-te, para que tu sejas em minha cabeça/ o meu
pensamento mais íntimo3.
Vi a
poesia do poeta e quis ardentemente, com todo o fogo de minhas entranhas
menstruadas, que ele fosse meu, para mim. Só! Refazendo o pensamento. O
desejo se assenta/ Doido, o pensamento revoa4.
Se a vida
tenta me foder, encaro-a de costas
— já sei que a volta, também/é uma
partida5. Pousa noutra, claudiamente. Suas mãos me guardam carinhos. Nunca aprendi a cair. Algures,
apresado.
1 “Brilho
cego”, em “Mingau das Almas”, Vieira Vivo, p. 35.
2 “Balbúrdias”,
em “Mingau das Almas”, Vieira Vivo, p. 74.
3 “Palavra”,
Cláudia Brino, p. 14.
4 “Segredo”, em “Mingau das Almas”, Vieira Vivo, p.
71.
5 “Compasso
de espera”, em “Mingau das Almas”, Vieira Vivo, p. 45.
(26/6/2013)
- Hilda Curcio
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