capa cláudia brino |
O objetivo fundamental da poesia é o
de nos colocar em estado poético, isto é, o de nos sensibilizar subjetivamente.
E este objetivo FRAGS, o novo livro de Cláudia Brino, esta poeta de raro
talento, atinge em cheio.
Halo de múltiplas significações –
todas tão engenhosas quão adoravelmente subjetivas, este fazer poético de
Cláudia produziu um livro lindo que, circundando a palavra para expandi-la por
meio de imagens múltiplas e criativas, reinventa o fazer poético e o exalta,
emociona e dá prazer sem a pirotecnia verbal estéril e fria da invencionice pela
invencionice tão em voga entre os poetas contemporâneos.
Poeta especial, sensível e
inovadora, Cláudia Brino, neste novo e vigoroso trabalho, transforma a palavra e
a transcende de forma peculiar, bela e o lirismo tocante de seu estilo único,
impactante em sua leveza aparente, tem muito do fogo e das cinzas da existência.
É um lirismo rico, bíblico, desenhado com metáforas às vezes cortantes, suave
umas, abruptas outras, mas sempre surpreendentes.
A aparente singeleza da voz poética
de Cláudia é sofisticada, nos cativa e nos converte em êxtase de puro estado
poético com sua linguagem mítica, mágica, simbólica que permeia toda esta
pequena obra-prima contida de FRAGS onde a tensão vai sendo gradativamente desvelada em cada fase dos
desencontros das personagens, verso a verso com o gato por espectador:
“Luzes coloridas
brilham pela cidade, ela olhando pela janela se assombra como tudo lá fora está
vazio. Ele não se importa em desenhar traços. O gato faz parte dessa
encenação.”
Aliás, isto: ela, ele, o gato, uma
janela: esta história de amor -
que é a história de um grande desencontro – foi a primeira forte
impressão que me veio à mente ao findar a leitura deste livro encantador: “O tempo escorre pelas mãos dela que com um leve sorriso
espanta qualquer vestígio de existência. Dentro do copo um olho se repete. Ela
grita para a noite que teimosamente amanhece. Ele pinta o gato no
espelho.”
Naturalmente que outras leituras
podem e devem ser feitas a partir desta coletânea formidável de flagrantes
poéticos de puro encantamento que somente um excepcional talento como o de
Cláudia Brino poderia nos oferecer:
“Com uma frase ela
espanta o erótico. Ele não entende os gestos que a sombra reproduz. Atrás do
sono corre uma fileira de palavras e no parapeito da janela uma flor se fecha
diante do
gato.”
Mas esta é a minha leitura e a
considero linda pois vejo, à janela, o gato observando a ação das personagens a
deambular catatônicas entre a motivação e o obstáculo do cotidiano amoroso. Seja
como for, FRAGS constitui leitura obrigatória porque é poesia pura.