Moysés Amaro Dalva
Denuncio o evangelho que não serve para o mundo;
que não tem poder profundo, pra multiplicar o pão... M.A.
Costelas Felinas
lançamento 2016
MOYSÉS AMARO DALVA E
SUA POESIA MÍSTICA,
TROVEJANTE, REVOLUCIONÁRIA
(*) Aristides Theodoro
Não é de hoje conheço este Moysés Amaro Dalva, com quem comungávamos os mesmos ideais, adorávamos o mesmo Deus, partilhávamos o mesmo pão, bebíamos a mesma água, seguíamos as mesmas pseudo verdades, líamos os mesmos livros, declamá-vamos os mesmos poemas, gostávamos dos mesmos filósofos, etc... Foi nesta mesma época que criamos uma agremiação literária, Colégio Brasileiro de Poetas, pela qual pretendíamos pautar as nossas vidas, conduzindo adeptos para a trilha das nossas idéias. Isso, nos anos sombrios da ditadura de 1964. Foi aí, que juntamente com oito rapazes e moças, criamos esta agremiação C.B.P, gestada e batizada por Moysés Amaro Dalva. Através da mesma, passamos a disseminar os nossos sonhos, a ler e mostrar nossos primeiros pecados literários e a nos reunir no Bar do Yugo, no centro de Mauá onde nos afeiçoamos cada vez mais às letras. Uns mais, outros menos. O próprio Moysés foi um dos que logo abandonaram o grupo recem formado, assim que o mesmo passou a enfrentar as suas primeiras desavenças, fazendo assim, emergir as figuras de Castelo Hanssen, Antenor Ferreira Lima, Iracema M. Régis e este que vos fala.
Moysés abandou o grupo e os amigos, cheio de mágoas, ressentimentos, porém não deixou de versejar, não mais com a frequência que escrevia antes, porém com a mesma qualidade dos velhos tempos, e isto é o que vamos constatar através deste seu primeiro livro: “Plangeu um apito na tarde”, contendo uma seleção dos seus melhores momentos poéticos portanto, uma coletânea, talvez das melhores que já se editara por um poeta do nosso A.B.C paulista.
Moysés, que bebeu muito em Victor Hugo, Castro Alves, Álvares de Azevedo e até em nosso Gióia Júnior e tantos outros grandes de sua admiração, longe, bem longe está de ser um pasticheiro, um imitador barato. A sua poesia é uma poesia grandiloquente, que impressiona o leitor, logo que esse sorva os seus primeiros versos desconcertantes, ardentes, cheios de metáforas, ora pejados de humanismo, compaixão pelos desvalidos da raça humana, os injustiçados por Deus e pelo diabo. Uma poesia ás vezes carregada de misticismo a Gibran Khalil Gibran. Em síntese, uma poesia como quase não se vê em nossos dias, a não ser nos versos de outro poeta mauaense, seu contemporâneo, e colega do C.B.P, Castelo Hanssem, com quem muito se assemelha, isto apenas no tocante á temática. Diferença, fora isso, gritante, quanto ao estilo, a forma e a maneira de dizer as coisas. Castelo é dócil como “as águas dos correguinhos”, tão cantadas e decantadas por ele. Já o Moysés é um espinhento, declivoso, provocativo, temperamental, com uma linguagem mais refinada, que a do autor de “Canção pro sol voltar”, que no tocante a linguagem se assemelha a um caminhoneiro das estradas, com sua prosódia cheira de barbarismos (propositadamente) – coisas como “mais maior que o mar”, etc...Moysés, por ter bebido nos clássicos é um tanto refinado, ás vezes, puritano. Sua poesia é mística, trovejante, revolucionária, sem pedir licença a seu ninguém, são poemas que fazem pensar.
Moysés, a exemplo de Graciano Ramos, Mario Palmério, publica o seu primeiro livro já maduro, o que lhe proporcionou polir os seus versos ao extremo, sem passar pelo vexame que passaram Dalton Trevisan, Vinicius de Moraes, que tiveram de percorrer os caga-sebos da vida, procurando os seus pecadilhos literários da juventude, a fim de destruí-los, antes que fosse tarde em demasia.
Caríssimo provável leitor: - Você que teve a paciência de ler-me até aqui, por favor, adquira este “Plangeu um apito na tarde”, leia-o e depois diga-me se não estou falando a pura verdade.
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