Na tentativa de entender as coisas.
Palhaço meus olhos para um lado, o outro — quando
as coisas todas conversam umas com as outras.
Palram de mim todas
do meu lado — a madeira com a madeira, o vaso com o vaso,
o copo com o copo brindam não sei quê, à lona;
a xícara derrama-se qualquer no pires submisso.
Dialoga a tristeza com o vazio,
o bem com o mal,
o amor com a falta de.
O que importa não é a madeira
o vaso o copo a xícara a tristeza o vazio o bem o mal o amor,
mas como as coisas se comportam
o que elas representam
e o espaço que ocupam em minha vida. Só.
Você fala sobre meu corpo
me cobre me quebra prenhe de amor.
Eu só sei falar de coisas
você, só de amor. Sempre.
E as coisas estão no mesmo lugar,
emprestando a mesma serventia de toda-hora.
Elas também são importantes.
O sentimento não é tão desimportante.
Pode falar de amor de ser de encontrar...
Qualquer coisa é melhor que nada, apesar de.
Pode falar de... apenas falar.
Agora, embalo meus sentimentos solitários
numa rede expostos ao dia tempo também transeuntes.
A varanda é meu refúgio de qualquer modo.
Longe diviso um pescador que faz sua rede com
fios fortes que sustêm os peixes — elos fabricados;
eu faço poemas com palavras — elos confusos (coisa-amar);
porém, ambos tecemos.
Minha rede estancada expulsa-me agora.
A rede do pescador acolhe os peixes.
Quero ser um peixe qualquer.
Na sua rede.
Comentários
Mais um poema de grande beleza e sensibilidade. Um afago na alma dos amantes da poesia.
A minha rede está sempre me expulsando da pesca poética, rs. Parabéns, bela construção o seu poema. Bitokitas e Luz.