Organização: Cláudia Brino e Vieira Vivo
(2010)
Decoração: Cláudia Brino
Realização: Cabeça Ativa - Produções Culturais
Decoração: Cláudia Brino
Realização: Cabeça Ativa - Produções Culturais
Apoio Cutural
Cada
poeta recebia uma flor e deveria escrever um poema sobre a mesma. Desse
material, só temos notícia da 'sobrevivência' do poema Margarida
de Paulo Gonçalves (transcrito no final deste artigo).
Eunice Tomé (jasmim),
Clarfa Sznifer (rosa),
Neusa C. Sleiman (calêndula),
Neila B. Pereira (hibisco),
Regina Alonso (dália),
Ivan Pereira Santos Júnior (sempre-viva),
Madô Martins (girassol),
Benê Olcor (begônia),
Cinyra Antunes (cravo),
Fátima Curado (lírio),
Iracema Ananias (margarida),
Sidney Sanctus (amor perfeito),
Olímpio Coelho (gerânio),
Kedma Oliver (violeta),
Cida Micossi (onze horas),
Maria Heloísa de Souza Melo (Helô) (orquídea),
Mahelen Madureira (gerbera),
Marly Barduco Palma (flor de lótus),
Ludimar Gomes Molina (crisântemo).
Além do evento foi editado com os 20 poemas (na verdade 19, pois teve uma poema que não floresceu) a Antologia Noite das Flores.
Seguem
abaixo o prefácio do livro, o fragmento da crônica de Madô
Martins, comentários de alguns dos participantes e o poema de Paulo
Gonçalves.
Noite das Flores: Um jardim de poemas
Os
poetas presentes nesta antologia celebraram a chegada da primavera de
2010 em um evento emotivo e profundamente tocante, organizado pela
Cabeça Ativa Produções Culturais. A noite do dia 17 de setembro
mostrava-se agradavelmente amena quando os participantes, ao chegarem,
reuniram-se no pátio externo à frente do Espaço Cultural da Aliança
Francesa, em Santos. As portas fechadas provocaram murmúrios
interrogativos e exacerbaram as expectativas por parte dos celebrantes,
todos munidos de seus poemas, cada qual homenageando uma determinada
flor.
Pouco
antes da entrada dos celebrantes ocorreu a entrega, a cada um, de uma
cópia do poema “Margarida” de Paulo Gonçalves, único documento
remanescente da Noite das Flores de 1914. A partir daí, por ordem de
chegada, um por um e individualmente, todos os poetas adentraram ao
salão.
O recinto mostrava-se extremamente harmonioso e aconchegante. Arbustos,
folhagens, pétalas de rosas, folhas secas, objetos decorativos, flores,
luminárias e velas aromáticas recepcionaram os declamadores envoltos em
furtiva iluminação. Cláudia Brino, que elaborara o projeto de
decoração, os conduziu, alternadamente, por uma sinuosa alameda vegetal
recoberta por musgo seco, que findava em um círculo de cadeiras,
formando uma bela corola de poetas ao centro do salão. Os espectadores
convidados adentraram por um caminho lateral de pétalas até uma espécie
de meia-lua, formada pelos acentos, ao fundo.
Ao fim da alameda, e à frente da corola central, um portal postado à
frente de todos e ornamentado com folhagens e pequenas flores silvestres
formaram o púlpito celebratório à primavera. As breves palavras
iniciais de recepção e agradecimento nortearam toda a celebração. Foram
abolidos os aplausos entre cada poema, bem como possíveis comentários
sobre a concepção dos mesmos. Esse pequeno detalhe fez com que toda a
apresentação ocorresse de forma coesa e harmoniosa envolvendo a todos em
um halo de emotividade ímpar.
Com
iluminação central dirigida, os poemas em louvor às flores desfilaram
na voz de cada autor e após a leitura eram depositados em um cesto de
vime decorado por um violino caprichosamente recoberto por margaridas. O
respeito mútuo, a emoção aflorada, a sensibilidade inerente a quem
possui o dom de versejar, o amor que devotamos à natureza e a plena
consciência de estarmos vivenciando um momento mágico e único, que
somente a poesia nos oferece, marcaram indelevelmente, para poucos
eleitos, aquela noite. Por misteriosos desígnios vinte e cinco pessoas
foram reunidas naquele singelo jardim noturno e alçadas à este magnífico
deleite. E que magistral privilégio tê-lo desfrutado!
E
dessa benigna comunhão de virtudes desabrocha agora, em nossas mãos, a
presente antologia poética formando um delicado e perene ramalhete de
poemas a cristalizar efetivamente no tempo, a Noite das Flores, fruto da
união de todos nós em torno da poesia e da natureza.
Prefácio de Vieira Vivo- cacbvv@gmail.com
Versos para a primavera
Cláudia
Brino e Vieira Vivo convidaram 20 poetas da Baixada Santista para o
desafio. Com o aval da diretora Maria de Lourdes Beco, transforam o
salão de festas da Aliança Francesa em um pequeno bosque, com alamedas
floridas, velas acesas, troncos antigos, enfeites e luminárias de
jardim. Nas paredes, expuseram imagens florais acompanhadas por poesia
criadas tanto por Shakespeare quanto pela haicaísta Teruko Oda, passando
por santistas como Jaíra Presa, num eclético mosaico de versos.
Uma
das diferenças entre esta e a apresentação de quase 100 anos atrás é
que nós, poetas agora sorteados, tivemos mais tempo para escrever. A
outra, que nossos versos, lidos naquele ambiente mágico para um público
restrito, farão parte de uma antologia, a ser confeccionada pelo casal
promotor, especialista em livros artesanais. Cada participante terá dois
exemplares. A intenção, segundo Vieira Vivo, é deixar registrados a
reunião e seu resultado: "Quem sabe, no próximo século, alguém encontre a
obra e também resolva repetir o evento, desta vez com mais subsídios".
À
entrada, recebemos cópia do soneto de Paulo Gonçalves, em que o poeta,
com a linguagem rebuscada da época, revela que preferia ter escrito
sobre outra flor:
"para
mim, que sonhava engrinaldar de rosas/ a fronte angelical da minha
Melisenda,/ tu me dás uma flor, talvez das mais formosas,/ mas sem
perfume nem legenda." Assim como ele, na Noite das Flores atual, alguns
ficaram frustrados, a cobiçar a flor destinada a outro. Uns sequer
conheciam a espécie que foram incubidos de exaltar e outros mostraram-se
felizes com a que a sorte lhes brindara. No primeiro momento, pensei
estar na turma dos descontentes, e me solidarizei com o queixoso do
passado: queria versejar sobre amor-perfeito e recebi um girassol como
encomenda. Mas aí, a musa me levou até as telas de Van Gogh...
(Frag. da crônica de Madô Martins - publicada no jornal A Tribuna 26/09/2010 - madomartins@yahoo.com.br
Comentários:
- Amigos, uma vez mais, aqui, minha gratidão exclama. Inenarrável o sentimento de estar presente em uma noite tão estrelada que foi a Noite das Flores na última sexta.
Diante
de tamanhas demonstrações de amor ao idílico, ao sonho, à ilusão, que
somente por meio da poesia são possíveis, graças a todos aqueles,
companheiros de "armas e letras", que acreditam poder mudar o mundo ao
lançar mão de uma caneta e de um papel, fixou-se na eternidade aquele
instante - quando cada qual se arrojou ao seu modo, a celebrar a entrada
da primavera. (Ivo dos Santos Pereira)
- Meus queridos, o Ivo descreveu lindamente o que foi aquela noite mágica! Sou grata por fazer parte deste evento. (Iracema Ananias*)
- Foi uma celebração no Olimpo. Os deuses sorriram e aprazivelmente acolheram nossas oferendas e homenagens à primavera, em forma de poesias, onde cada um se expressou conforme seu sentimento e criatividade. Aquelas cadeiras em semicírculo nas quais os poetas tiveram assento, tiveram o dom de me fazer sentir como fazendo parte de uma grande confraria de amor, beleza e respeito à natureza. (Neusa Conforti Sleiman)
- Obrigada pela oportunidade de compartilhar com pessoas de tamanha sensibilidade para compor seus escritos (Rosi Caobianco)
- Venho agradecer a alegria proporcionada pela maravilhosa noite de 17 de setembro/09. O cenário perfeito para um evento tão aconchegante e lindo preparado com esmero. (kedma O'liver)
- Ratifico tudo o que disseram, agradeço a oportunidade e espero poder compartilhar outras vezes em eventos tão encantadores como este. Meus respeitos a todos os que lá estiveram (Cida Micossi)
- Sem palavras para falar da Noite das Flores. Parabéns por aquela noite mágica, noite de flores, de cores, de perfumes, de velas, de poesias, de amigos... (Mahelen Madureira)
Poema de Paulo Gonçalves
Margarida
Na magia floral com que te apoteosas,
ó primavera, em oferenda,
as flores não são mais que imagens amorosas,
símbolos que a visão dos líris desvenda.
Para mim, que sonhava em grinaldar de rosas
a fronte angelical da minha Melisenda,
tu me dás uma flor, talvez das mais formosas,
mas sem perfume nem legenda.
Num gesto a velho estilo, e de alma comovida,
curvo os joelhos em prece, e rendo vassalagem
a esta Rainha Margarida.
E no brancor das suas pétalas deponho,
com ternura de poeta e requinte de pajem,
o doce aroma do meu sonho.
(Publicado no livro Obras Completas de Paulo Gonçalves - Vol. 02 - Ed. Cultural 1943)