Sento-me na calçada, a olhar insone
o que ela deixou pra que eu olhasse.
Ela sentou ontem aqui para relaxar
e pensar em tudo que aconteceu
e que deixou de acontecer.
Passo as mãos pela calçada
e toco num alfinete. Sangro.
Queria sentir o cheiro
de cada dia em que ela andou aqui.
Me ponho a perguntar sobre sentidos
de coisas que jamais aconteceram.
Me ponho a perguntar sobre conceitos
que ela tinha da vida e da morte.
Me ponho a perguntar do amor
E o que eu penso do amor
E seu potencial de inseguranças?
Não tenho respostas, embora pareça
Ter todas as questões do Ser.
Sento exatamente onde ela sentava
encaixando a bunda onde a dela
suavemente era encaixada.
E percebo porque ela gostava
de sentar bem aqui neste exato lugar.
É que aqui dava pra enxergar um anjo
que chorava naquela nuvem defronte.
E ela sempre gostou de anjos que choram.
Também é uma calçada perigosa
por provocar demasiadas perguntas
de dentro pra fora.
Ali tem um sinal do que ela usou
pra fumar um baseado. Acolá,
um vestígio de pedra, pó, sei lá.
Talvez seja até pó de estrela,
matéria de sua pele lânguida.
Uma alma vulcânica.
Espero o seu recomeço.
Ela está renascendo.
Tenho de voltar pra nuvem e chorar.
Na verdade, sou um demônio disfarçado.
Tive que derrubar aquele anjo
E tomar o seu lugar.
Natanael Gomes de Alencar
Comentários
versos bem elaborados.
Marcos Moreira Marcolino