ABRANGÊNCIA LIBERTÁRIA DE JORGE AMADO
A abrangência libertária consiste
na expansão contínua de nossos
conceitos.
Um pequeníssimo flash desta abrangência é o prefácio que Jorge
Amado escreveu para “Os morcegos estão
comendo mamão maduro”, romance lisérgico de Gramiro de Matos (Ed. Eldorado,
1973), livro sintonizado com a ideologia hippie e trazendo uma estrutura
espasmódica onde o texto é vomitado sem fôlego e sem parágrafos e em borbotões
contínuos de imagens. Amado encantou-se com este tipo de narrativa que veio a
dar frutos, pois a partir daí mais dois livros, com estrutura idêntica,
surgiriam em nossa literatura nos anos seguintes: “Catatau”, de Paulo Leminski (Ed. Grafipar, 1975 e “Galáxias” de Haroldo de Campos (1984,
Ed. Ex Libris).
A sintonia com a contemporaneidade e com os movimentos que
preconizavam a liberdade total de atitudes, no início dos anos setenta,
levou-o, também, a incluir nas páginas de “Tieta
do Agreste” algumas alusões a grupos de hippies e artesãos que, naquela
época, perambulavam entre Arembepe, Itapoã, Itaparica e todo o litoral
nordestino. Atento a quaisquer interferências no heterogêneo universo humano
que se apresentava aos seus olhos, Jorge Amado concedeu-nos a inenarrável
sensação de nos vermos retratados em suas páginas, como meros personagens sem
rosto, ao cruzarmos seu caminho, em direção à casa de Caymmi, por aquelas
estradas litorâneas com nossos cabelos longos e as velhas roupas coloridas.
Outra nota dentro desta abrangência libertária e humanista é a
tônica de seu texto que ornamenta o livro “Entre
o caos e a primavera” do poeta santista Taibo Cadórniga (Ed. Pannartz,
1979) que havia sido seu colega de bancada, pelo PCB, na Assembléia Constituinte
de 1946. Cadórniga publica, no ano de 1973, o poema “No Vale de Woodstock”, onde aponta que havia, também, um outro
caminho além das limitadas imposições ideológicas das ditaduras de direita e de
esquerda e onde Jorge Amado arremata: “Sua
poesia está impregnada deste universo transcendente que é o homem em busca da
liberdade e em busca de si mesmo”.
E é esta reverência à liberdade e aos ideais libertários em toda
a sua plenitude e, também, os detalhes de sua abrangência que o tempo vem se
encarregando de lapidar, temperar, filtrar, documentar e nos mostrar em todo o
seu esclarecedor aspecto.
Vieira Vivo
Trecho de artigo publicado no livro: “100 Anos de Jorge Amado -
Homenagem de escritores brasileiros”
Organização: Iracema M. Régis – Edições Criar, 2012.
Comentários