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Cultura - por Emanuel Medeiros Vieira

 Falarei sobre cultura. Cultura? Sim: sem pretensão e de maneira clara.
Um dos temais que mais problematizaram a minha geração foi a discussão sobre “altura cultura” ou “baixa cultura”, arte “elitista” ou arte “popular”.
 O CPC da UNE, já na década de 50 e também na de 60, pensou o assunto em reuniões, seminários, obras de arte. E subiu o morro. Lógico, havia equívocos e um maniqueísmo ingênuo que, dentro do contexto da época, até era possível entender.
Por que não gostar de Beethoven e de Carola, de Mozart e de Pixinguinha, de Bach e de Lupíscinio?


Já é um lugar-comum ou “mantra” da indústria cultural se justificar afirmando que oferece o que público quer.
Bia Abramo indaga: “Mas será que, ao contrário, o mecanismo é de tal forma perverso que o público passa a querer aquilo  que se imagina que deve ser dado?”
O gosto se discute sim! E tem mecanismos complexos e autônomos.
A acusação que se faz para desqualificar os que criticam a programação da TV aberta, é chamá-los de elitistas.
(Seria elitismo condenar a horrenda grade da TV aberta, pelo menos aos domingos?)
Elitismo é deixar fora da população pobre – que, às vezes se esforça loucamente para construir bibliotecas nas favelas –  aquilo que a humanidade produziu de mais duradouro e inteligente.
Elitismo – pondera outro observador – é fazer da alta cultura privilégio de minorias, enquanto se produz lixo para quem não conhece nem tem tempo de conhecer outra coisa.
“Elitista é o sacrossanto mercado, que não irá arriscar o lucro certo pela missão – que deveria caber a uma emissora pública – de tornar sua  audiência mais informada, consciente e crítica.”
Pude perceber , em alguns morros deste país,  a emoção das pessoas mais humildes, mais pobres, mais vulneráveis do Brasil, assistindo a uma orquestra que foi se exibir para elas, com Villa Lobos, por exemplo, no repertório.
Se só se oferece lixo, violência,  e se existe uma volúpia em exibir os mais baixos instintos (em programas policiais ou de auditório), as pessoas só terão isso. Não saberão de que existe um outro mundo, uma outra arte, e passarão o tempo de suas vidas sem poder usufruir de qualquer beleza.

Precisava-se antigamente de vários dias, semanas ou meses para leitura (profunda, feita com calma) de um romance. Lembro de “A Montanha Mágica”, de Thomas Mann. A gente folheava, voltava para trás, para frente, lendo de novo, mais uma vez, para gravar bem o nome de um personagem; enfim, refletia-se sobre a mensagem.
Hoje, como expectador, a gente consome o mesmo romance, processado em imagens, no espaço de noventa minutos.
Mas  com menores consequências, pois, como observa Günter Kunert, deixa de existir o esforço de traduzir na mente primeiramente o elemento abstrato do texto para algo visível.
Claro: nesse ritmo, quem está acostumado só com TV, se pegar um livro sentirá tédio, pois “sua expectativa subliminar não é satisfeita, porque aquilo que lhe é oferecido exige um outro método de abordagem.”
Ele resume: “Quem está acostumado a caminhos curtos mostra relutância diante dos mais longos.”

GRACIAS, MERCEDES
Serei até redundante: Mercedes Sosa marcou muito a minha geração.
Com belíssima e impactante voz, ela falava de nossas aflições políticas, da morte dos sonhos, das ditaduras, do sofrimento dos idealistas.
Ela foi a voz da resistência de nuestra América
Mercedes, através de uma música bela e pungente, meditou sobre as angústias e esperanças de gerações politizadas que sofreram em suas vidas o impacto das ditaduras brutais do cone sul; refletia  sobre os exílios internos e externos  em nossas vidas.
E – algo muito importante –, ela cantou a sensação de desenraizamento, e a percepção de ser estrangeiro também em sua própria terra..
Para muitos de nós, o exílio foi a pátria soberana.
Em mais de 40 álbuns, compactos e participações em discos alheios, ela gravou os mais importantes compositores argentinos, como Ariel Ramirez, Atahualpa Yupanqui, Horacio Guarany, César Izella,  Léon Grieco, Victor Heredia e Gustavo Leguizado.
Trabalhou, igualmente, em parceria com o poeta Felix Luna.
Mercedes também registrou canções inesquecíveis de compositores e poetas chilenos como Victor Jará e Pablo Neruda.
Cantou  “O Cio da Terra”, de Chico Buarque e Milton Nascimento.
Foi um dos pilares fundamentais da música popular argentina, ao lado de Carlos Gardel  (que está cantando cada vez melhor...) e Astor Piazzola.
Bastaria que tivesse sido a intérprete definitiva de “Gracias a la vida” e “Volver aos 17”, de Violeta Parra.
El citava nas entrevistas a letra de Maria Helena Walsh: “Tantas veces me mataron, tantas veces me mori y aqui estoy resuscitando”..

DE GROUCHO MARX (1890-1979): “Esses são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.”

por  Emanuel Medeiros Vieira 

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