
Atravessei o portão da Casa do Sol há três dias. Portal que se abriu na forma de 12 palmeiras, muitas árvores de jasmim-manga, uma sinfonia de cigarras, 14 cães (já foram 120) e pela receptividade de Olga Bilenky e Jurandy Valenca, amigos de Hilda, e que junto a Daniel Fuentes (filho de Olga com o escritor Mora Fuentes) administram o Instituto Hilda Hilst, a Casa do Sol.
Vim aqui para fechar o círculo em mim, pelo menos tentar: obra-conhecimento-energia. Sentada sob a figueira centenária, tutora da Casa do Sol, tento soltar esse aperto da garganta. Consigo chorar. Recebi tanto em tão pouco tempo. Tempo!? Este espaço é uma dobra dele. Sim, é. Aqui não tive nenhum dos problemas criados e alimentados no estresse urbano. Sem saudades da cidade, sem a insônia que volta e meia me persegue.
Vim buscar, procurar, sentir, interagir. Vim aprofundar a poesia em mim. Nestas paredes que tudo guardam, sinto desprender oxigênio cultural, cheiros, vozes, imagens, objetos, moveis e livros, Muitos livros. Encontrei harmonia e boa companhia. Falaram-me de Hilda e de seu cotidiano na Casa. Olga mora na chácara há quase 37 anos, intercalados por períodos em São Paulo, e Valença, que morou na década de 90, voltou a morar e trabalhar aqui em maio passado, 21 anos depois de sua primeira estada na Casa do Sol.
Saber do bom humor de Hilda, dos seus hábitos, de sua produção diária... Acredito e me arrisco a dizer, depois de ter estado, mesmo que brevemente com estas histórias, que Hilda sorri em Marduk. Além de ter deixado uma vasta obra da melhor qualidade literária, ela ainda proporciona inúmeras possibilidades como esta que absorvo, de ser uma residente. A inspiração, a emoção e a erudição de H.H. está em cada detalhe da Casa. Poesia para quem se dispor a ver. Eu, certamente, fui atingida. Sei que dissolvi algumas estranhezas. Vi na biblioteca um caminho. Sim: emoção, inspiração, conhecimento.
Meu caminhar continua. Terminar o livro de poesias ‘Cartografia em Construção’, revisar os poemas já escritos, mas não concluídos, e subverter a minha linguagem com as impressões que registrei na Casa. Obrigada, Hilda Hilst, Olga Bilenky, Jurandy Valenca e Lucas Malkut (fotógrafo, amigo da Casa, que veio passar uns dias no IHH), que exercitou comigo sua paciência ao realizar vários registros fotográficos. Além de Bolívia, a cachorra predileta de Olga, que se doou em minha estada e em minha cama e a seus companheiros da matilha que me acompanharam todo o tempo na Casa. E obrigada à Figueira que me acolheu. A guardiã dos segredos de Gaia, de cá, de lá e, agora, dos meus.
Entre eles
Um pátio e um jardim
O telhado, os retratos
Livros, desejos
Caio Fernando, Mora Fuentes,
Hilda Hilst
Em todos eles”.
O instituto está captando recursos para a construção de anfiteatro: http://soulsocial.com.br/
Rosana Banharoli,
jornalista por formação e poeta por teimosia. É coordenadora de oficina
de leitura crítica na Casa da Palavra, em Santo André (SP). Autora do
livro de poesia “Ventos de Chuva” [editora Scortecci, 2011], financiado
pelo Fundo de Cultura de Santo André.
Comentários
Edweine Loureiro
demais...
Ana Natália da Silva
Amigos, obrigada pela leitura.
Rosana Banharoli