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A lente da beleza - Luciano Marques


Trago na algibeira do olhar a lente da beleza, capaz de iluminar os caminhos, ampliar horizontes e suavizar os sinais de cansaço e do conformismo trazidos pela inevitável ação do tempo. A beleza depende da forma como olhamos, da maneira como encaramos os acontecimentos. O que torna belo não são os adornos, mas o esforço em procurar algo de bom em tudo e em todos ao nosso redor.
O mundo se modifica quando, primeiramente, modificamos a forma de olhá-lo e de aceitá-lo. A mudança de atitude é um antídoto vital para não deixarmos o olhar se contaminar pelas mazelas cotidianas. Mudar é, antes de mais nada, libertar-se de velhos hábitos, conceitos e pré-conceitos que engessam nosso entendimento. Mudar é quebrar paradigmas. Para isso, é preciso ter coragem e desprendimento. As dificuldades que muitas vezes advêm dessas mudanças, são extremamente necessárias para fortalecer os músculos da alma.

Mas o caminho que nos leva a esse estágio de compreensão é, muitas vezes, estreito, longínquo e pedregoso. Nesse percurso, o essencial é que nos consideremos constantes viajantes na busca pelo equilíbrio e pelo engrandecimento espiritual. Todo crescimento é resultado de uma mudança gradual, onde cada passo é importante no processo de evolutivo. Ninguém adormece num dia com o olhar doente e, depois, no outro, desperta completamente redivivo. Precisamos reconhecer que o nosso olhar também adoece e, por isso, carece de cuidados. É preciso buscar a cura dos olhos negativos e inferiorizados.  
Há tempos atrás, considerava-me um escafandrista e vivia submerso em águas estéreis, ruminando oportunidades perdidas para justificar as tristezas que me assombravam. Felizmente, algo Maior me trouxe à superfície. Procuro enxergar além das lamentações e dos ressentimentos. Hoje, em terra firme, tento degustar a vida com a tenacidade de quem já esteve por perdê-la, e com a emoção ímpar do reencontro. Passei a enxergar a grandeza de Deus presente nas pequenas coisas, nos pequenos momentos: no canto dos pássaros, nas sinfonias de Beethoven, no som do silêncio, no cheiro da chuva, nos versos de Caiero, nas canções e nos falsetes de Milton, no sorriso de minhas filhas, no beijo e nos carinhos de minha esposa, na harmonia do meu lar, nos perfumes naturais, nas orquídeas, nos ipês...
Antes, atado ao receio do “não” e à dependência do “sim”, não enxergava os nuances das cores, não ouvia os sons em todas as suas dimensões. Sentia-me preso às laudas de um romance mal escrito, limitado ao horizonte de um quadro pendurado na parede, onde a felicidade era algo intocável, uma mera paisagem pintada pelo artista. Mas depois de perdoado por mim mesmo, ciente de ter sido agraciado por uma nova chance, procuro enxergar a beleza impregnada em todas as estações, em todos os momentos.
Envolto à Fé e comungando da mesma esperança dos que almejam dias melhores, vou escrevendo minha história. Vou retirando dos canteiros pensamentos daninhos. E, como os pássaros que semeiam flores, vou semeando meus versos, confiando que ao menos um encontre solo fértil. Assim o tempo vai cumprindo seu curso e ensinando a arte da espera, enquanto aguardamos o momento sublime da colheita.
Hoje, mais fortalecido, considero-me um sobrevivente, vencedor de uma guerra travada comigo mesmo, donde fora arrebatado e reavivado pela quentura da alegria emanada pela luz do sol. E, sob a ótica da poesia, contemplo com devoção e clarividência a textura da natureza, através da leitura minuciosa e constante do livro da vida: os dias.


Luciano Marques

Comentários

Anônimo disse…
aí caro amigo,
gostei do seu texto. muito bom...

bezerra diniz
Hilda Curcio disse…
Também já tive "olhos doentes", enfim, o que nos adoece é a vida, mas o que nos devolve saúde é a vida. Portanto. Sua história é triste, mas plena de convicções que desadoecem qualquer um e o faz forte. Muito boa mensagem, bem escrita, e, se realmente houver um romance com laudas mal escritas, você está pronto pra reescrevê-las. Muito bom texto.

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