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COISIFICA-RES - Hilda Curcio

Na tentativa de entender as coisas.
Palhaço meus olhos para um lado, o outro — quando
as coisas todas conversam umas com as outras.
Palram de mim todas
do meu lado — a madeira com a madeira, o vaso com o vaso, 
o copo com o copo brindam não sei quê, à lona;
a xícara derrama-se qualquer no pires submisso.
 
Dialoga a tristeza com o vazio,
o bem com o mal,
o amor com a falta de.
 
O que importa não é a madeira
o vaso o copo a xícara a tristeza o vazio o bem o mal o amor,
mas como as coisas se comportam
o que elas representam
e o espaço que ocupam em minha vida. Só.
 
Você fala sobre meu corpo
me cobre me quebra prenhe de amor.
Eu só sei falar de coisas
você, só de amor. Sempre.
E as coisas estão no mesmo lugar, 
emprestando a mesma serventia de toda-hora. 
Elas também são importantes.
O sentimento não é tão desimportante.
Pode falar de amor de ser de encontrar...
Qualquer coisa é melhor que nada, apesar de.
Pode falar de... apenas falar.
 
Agora, embalo meus sentimentos solitários
numa rede expostos ao dia tempo também transeuntes.
A varanda é meu refúgio de qualquer modo.
Longe diviso um pescador que faz sua rede com
fios fortes que sustêm os peixes  — elos fabricados;
eu faço poemas com palavras — elos confusos (coisa-amar);
porém, ambos tecemos.
Minha rede estancada expulsa-me agora.
A rede do pescador acolhe os peixes.
 
Quero ser um peixe qualquer.
Na sua rede.                          


 Hilda Curcio

Comentários

Anônimo disse…
Éh! Isso tá me soando como paixão das mais arretadas!
Hilda Curcio disse…
Este texto é antigo, foi mais solidão que paixão. Por hoje, claro que não vou matar sua curiosidade.
Hildamiga,

Mais um poema de grande beleza e sensibilidade. Um afago na alma dos amantes da poesia.
elzafraga disse…
"Minha rede estancada expulsa-me agora."
A minha rede está sempre me expulsando da pesca poética, rs. Parabéns, bela construção o seu poema. Bitokitas e Luz.
Hilda Curcio disse…
Poeta Francisco, que comentário gentil. Retribuição de afagos, porque sei que você também ama a poesia.
Hilda Curcio disse…
Poeta Elza, obrigada pela gentileza sempre.

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