FRAGMENTÁRIAS REFLEXÕES
EM MEMÓRIA DE DOM TOMÁS BALDUÍNO, COM QUEM MANTIVE FECUNDO E PROVEITOSO
DIÁLOGO EM GOIÁS VELHO (GO)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“As torturas a que me submeteram , nos porões do Doi-Codi, deixaram
sequelas que até hoje não consigo avaliar com precisão. Mas creio que o seu
efeito mais perverso é uma sensação insuperável de isolamento, um sentimento de
solidão que se instalou para sempre.”
(Rodolfo
Konder (1938-2014)
“Sem querer parece piegas, havia um comprometimento com o
coletivo nos anos 1960-1970, especialmente dos jovens, que não faz muito
sentido hoje. Os caras iam para a clandestinidade, muitos morriam, eram
torturados, abdicavam de vida pessoal, de carreira, filhos, porque acreditavam
numa coisa”
(Wagner
Moura, ator brasileiro nascido em 1976)
“Ele não poderia escrever algo mais leve?”, um (raro) leitor
se perguntará. Poderia. Mas, hoje, rápida e fragmentariamente, queria meditar
sobre algo: toda a tecnologia, não conseguiu expurgar o sentimento de
“ilhamento” entre as pessoas, de solidão individual, de busca (de muitos) pela
droga para fugir do real. Não é monumentalizar uma geração. A discussão
política é rala, superficial, um Fla-Flu. Todos parecem só gostar de mexer em
celulares. Lêem? O sentimento real de amizade (não virtual) parece abandonado.
Pessimismo? Olhem ao redor. Quando reflito, tal postura não significa
pessimismo. A vida é o valor maior – perdoem o lugar comum. Várias vezes, escrevendo, escutava (como
escuto agora), o canto de pássaros. O dia está azul. Esta geração (citada
acima) “fracassou? Como diria mestre Darcy Ribeiro, não queria estar ao lado
dos que “ganharam. Ganharam? Empobrecimento espiritual, desigualdade,
brutalidade nas relações, violência generalizada – e o golpe de 64 tem enorme
responsabilidade neste doloroso processo..Continuemos. Não peço que aceitem o
que eu digo. Mas que reflitam. Só isso: reflitam!
PS: O ator citado na epígrafe, filmará a vida de Carlos
Marighella (1911-1969). Diz Moura: “É um filme sobre sacrifício. Ele tinha uma
visão aguçada do futuro, com muita lucidez, um dos únicos a entender, antes do
golpe, que a chapa ia esquentar muito. O herói que eu gosto de ver é esse, e
que caminha para um destino trágico com altivez.”
(Brasília,
maio de 2014) - Emanuel Medeiros Vieira
Comentários
Cris
(Olha, eu vim comentar, mas continuo sem tempo para responder e-mails, viu?) Só porque passei aqui e não podia deixar de comentar o teu ótimo texto. Parabéns :)