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184 páginas |
“De alguma maneira somos sempre
presas ou predadores.”
O poder do domínio estende as teias e enlaça caprichosamente
cada destino. A subserviência secular tece com prantos, ódios e silêncios o
dia-a-dia de servos e poderosos. Movendo-se dentro das reminiscências de cada
personagem “Jardims das Almas” esmiúça ímpetos e manipulações, através das
quais, as peças se movimentam iludidas, sempre, pela roleta russa do livre
arbítrio.
As rememorações delineiam, através das gerações, a história
dos Branco Alvorão e o peso que ostenta a tradição ante a impotência, sempre
servil, daqueles que necessitam de seus préstimos. Ao reunir num mesmo
ambiente, logo ao início da trama, os protagonistas e coadjuvantes ante o
iminente passamento da matriarca da família, Geraldo José Sant’Anna traça
através das memórias e reflexões silenciosas de cada personagem a trajetória
histórica de uma comunidade rural onde as atitudes mais secretas dos habitantes
são desnudadas a partir de antagônicos ângulos pessoais, criando uma lúdica
cumplicidade com o leitor.
E mais do que retratar a passagem e a marca dos anos sobre
uma pequena cidade interiorana, nos mostrar a intrepidez da elite rural na
conquista e desbravamento de novas terras e revelar cruamente os instintos mais
vis que secretamente movem os impulsos dos seres humanos, o autor ironicamente,
ainda, joga dados com a vontade própria dos personagens ao revelá-los, por fim,
enredados em outra trama onde cada ato já estava previamente estipulado.
Cláudia Brino & Vieira Vivo
É quase uma certeza. A sensação que se tem ao percorrer as
páginas de “Jardim das Almas”, mais novo romance de Geraldo José Sant’Anna, é que são as
palavras que buscam pelo autor. Pelas mãos e imaginação de Geraldo, elas são
tecidas até se tornarem uma elegante trama, cujo enredo fisga o leitor de tal
forma que é impossível abandonar a leitura antes do ponto final.
A atmosfera nos transporta para um passado não muito
distante, na imaginária e tão real cidadezinha Jardim das Almas, onde reinavam
as oligarquias Branco Alvorão e Moura Louriçal. Essa ascendência de poucos
sobre a maioria se dava não só na relação entre patrão e empregados, mas dentro
da comunidade e da família.
A rivalidade entre as famílias ultrapassou o campo mundano.
Com o perdão, talvez, da inadequação do termo, venceram a disputa os Branco
Alvorão. A tomada do poder pode ser demarcada com a construção da Catedral de
São Pedro Crisólogo, seu santo protetor, sobre a capela dedicada a São Miguel
Arcanjo, erigida pela família adversária durante a formação da cidade.
“Jardim das Almas” dá a dimensão exata da arrogância e
prepotência do ser humano, aqui perfeitamente traduzidas na figura soberba da
matriarca Fortunata – cujo nome diz (quase) tudo. A escolha dos nomes é um
deleite à parte, e não cabe estender mais este assunto, sob o risco de
comprometer o encantamento que provoca durante toda a leitura. Cada capítulo é
uma surpresa, principalmente no que diz respeito à narração, que passeia pelas
vozes de todos os personagens. Nos entremeios, Fortunata atua como solitário
jogador de xadrez, responsável pelos dois lados do tabuleito.
Certa de que seus arranjos são o melhor para garantir a
ordem que imagina para seu mundo guiado pelas tradições, ela se intromete no
destino de todos, alterando rumos, forçando pontos de união em histórias
aparentemente paralelas. Em sua cegueira despótica, ignora a existência de algo
maior, de fios invisíveis, responsáveis por seus movimentos e que quando menos
poderia presumir, a colocariam presa, imóvel, im potente no centro da teia que
ela mesma teceu durante toda a sua vida.
“Jardim das Almas” é mais um trecho de luz na trajetória de
Geraldo José Sant’Anna, que generosamente se propõe a dividir com os outros –
sorte a nossa.
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santana.geraldo@gmail.com
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