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O bobo e os “normais” - de Rogério Fernandes Lemes

As pessoas fazem piadas e riem de alguém com cara e bobo. Tem ainda a expressão: “de bobo não tem nada”. O fato é que vivemos em um mundo onde as pessoas querem parecer espertas, e não bobas. Pensam que ser bobo é algo depreciativo e motivo de escárnio.
Acontece que o bobo é um incompreendido, simplesmente, pelo fato dos espertos subestimá-lo. A concepção dos espertos é a de “se dar bem em tudo”, seja em um debate filosófico ou em uma fútil demonstração de intelectualidade. Já o bobo tem outra concepção.
Para ele, o bobo, a vida é simples e descomplicada. Se algo não deu certo, ele tenta novamente. Pensando desta forma seria correto dizer que o bobo não sofre do mal dos espertos: a opressão da razão. Para os espertos não se deve fazer nada sem a constatação da experimentação, seja através da observação ou dos resultados apresentados. Já o bobo não! Ele simplesmente vive o momento, e por isso mesmo é mais feliz.
A lexicografia é muito cruel ao definir o bobo. Porém, dos significados lá expostos, um supera os demais: a ingenuidade. Em certas situações, ser ingênuo é uma excelente estratégia. O próprio Cristo afirmou que “dos ingênuos é o Reino de Deus”. Obviamente que Cristo se referiu ao “espírito humilde”, tão característico nas crianças.
Mas atenção! Como alertou Clarice Lispector, não confunda bobo com burro ou com os demais significados do dicionário. O bobo não é tolo. O bobo não é egocêntrico e procura alguém para bobices mútuas. O bobo não é etnocêntrico, pois ele respeita a bobice do “outro”. Em meio aquilo que parece bobagem para os “normais”, os bobos são acessíveis e cultivam a filosofia da inclusão. O bobo é, na verdade, o mais sábio dos humanos, porque quase sempre se cala. O bobo é humilde quando não sabe sobre determinada coisa, e reconhece suas limitações. Raramente o bobo cai em contradição.
Ser bobo é ser livre dos estereótipos, dos medos mais humanizados e construídos socialmente. Não é nada fácil ser um bobo. Requer muita disciplina e abnegação.

Rogério Fernandes Lemes

Comentários

Anônimo disse…
é isso mesmo... gostei do texto
pamela andrade
Anônimo disse…
e o mais interessante é que os bobos eram mantidos por reis para divertimento....

Jorge Nascimento....

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