Para Sigmund Freud, o poeta conhece, entre o céu e a terra, muitas coisas que o conhecimento acadêmico sequer sonha conhecer. É nosso mestre, no que tange conhecimento da alma, pois bebe de fontes que ainda não se tornaram acessíveis à ciência. No dizer de Admmauro Gommes, “o poeta é um fundador de mundos e está sempre dando respostas, como se alguém lhe pedisse explicação dos fatos da vida. Ele descreve o interior das coisas. Não como realmente são, mas como deviam ser. Por isso, o inventor não leva muito em conta os acontecimentos reais. Prefere criar sua própria versão, fazendo do feio bonito, do triste contente [...].”
Na visão de Jonson, poeta não é “aquele que escreve com métrica, mas o que finge e forma uma fábula, pois fabula e ficção são, por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poética ou poema.” Paul Valéry, por sua vez, afirma que o poeta tenta representar ou restituir, “por meio da linguagem articulada, aquelas coisas ou aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros procuram obscuramente exprimir.” Ademais, Mia Couto certifica que o poeta não é apenas o detentor de um gênero literário, e sim de uma filosofia, de um modo de saber de si próprio, dos outros e do mundo.
Resumindo, o poeta é alguém que está para além da ciência (bebe de fontes que a ciência ainda não bebeu). É um observador perspicaz (descreve o interior das coisas). É um fingidor por excelência – não um mentiroso (finge e reinventa a realidade, conforme sua própria versão, tornando-a ficção). Tenta representar, por intermédio da linguagem articulada, as coisas que o comportamento humano não consegue expressar. Está para além da literatura (transita pela filosofia, pelo próprio interior, pelo interior dos outros, etc., e revela o que observa, conforme a própria observação). Não é um ser iluminado, e sim um ser supersensível, cuja sensibilidade é capaz de ir além dos cinco sentidos humanos (visão, audição, olfato, gustação e tato).
(Artigo publicado na Folha de Pernambuco, 26/05/2014, Opinião, p. 10)
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