Pular para o conteúdo principal

O POETA - Roberto de Queiroz


Para Sigmund Freud, o poeta conhece, entre o céu e a terra, muitas coisas que o conhecimento acadêmico sequer sonha conhecer. É nosso mestre, no que tange conhecimento da alma, pois bebe de fontes que ainda não se tornaram acessíveis à ciência. No dizer de Admmauro Gommes, “o poeta é um fundador de mundos e está sempre dando respostas, como se alguém lhe pedisse explicação dos fatos da vida. Ele descreve o interior das coisas. Não como realmente são, mas como deviam ser. Por isso, o inventor não leva muito em conta os acontecimentos reais. Prefere criar sua própria versão, fazendo do feio bonito, do triste contente [...].”
 
Na visão de Jonson, poeta não é “aquele que escreve com métrica, mas o que finge e forma uma fábula, pois fabula e ficção são, por assim dizer, a forma e a alma de toda obra poética ou poema.” Paul Valéry, por sua vez, afirma que o poeta tenta representar ou restituir, “por meio da linguagem articulada, aquelas coisas ou aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros procuram obscuramente exprimir.” Ademais, Mia Couto certifica que o poeta não é apenas o detentor de um gênero literário, e sim de uma filosofia, de um modo de saber de si próprio, dos outros e do mundo.
 
Resumindo, o poeta é alguém que está para além da ciência (bebe de fontes que a ciência ainda não bebeu). É um observador perspicaz (descreve o interior das coisas). É um fingidor por excelência – não um mentiroso (finge e reinventa a realidade, conforme sua própria versão, tornando-a ficção). Tenta representar, por intermédio da linguagem articulada, as coisas que o comportamento humano não consegue expressar. Está para além da literatura (transita pela filosofia, pelo próprio interior, pelo interior dos outros, etc., e revela o que observa, conforme a própria observação). Não é um ser iluminado, e sim um ser supersensível, cuja sensibilidade é capaz de ir além dos cinco sentidos humanos (visão, audição, olfato, gustação e tato).
 
(Artigo publicado na Folha de Pernambuco, 26/05/2014, Opinião, p. 10)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Varal do Brasil - Salão Internacional do Livro

Os preparativos para o 29º Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra já começaram. Estaremos presentes com nosso estande pela quarta vez levando autores de Língua Portuguesa para divulgar cada vez mais nossa literatura. As inscrições para todo autor que desejar participar estão abertas! Também seguimos com as inscrições para nossa quinta antologia: Varal Antológico 5  saiba mais lendo as informações 

FESTIVAL TRAÇO: Música e Desenhos ao vivo

12 bandas independentes de Belo Horizonte se reúnem a 16 artistas gráficos para dar origem ao festival Traço – música e desenhos ao vivo . A iniciativa  é um trabalho experimental, em que os grupos tocam enquanto os desenhistas criam ilustrações ao vivo, projetadas no telão da casa que recebe os shows, o Stonehenge. Composto por quatro edições, com três apresentações por noite, o festival estreia no dia 8 de agosto, às 21h, e tem encerramento marcado para junho do ano que vem. A curadoria musical abrange estilos, formações e propostas diversas. Rock, dub, ska, afrobeat, música instrumental, eletrônica, punk, grunge e “stoner barroco” são ritmos apresentados por bandas que variam de trios a septetos. Os objetivos vão desde apresentar simplicidade por meio de um som direto ou refletir sobre a sociedade contemporânea até “detonar uma experiência sonora alimentada pela cultura negra e urbana, que faça mexer músculos e cérebros”. Provocar a imaginação é também o intuito da c...

Trajes Poéticos - RIMA EMPARELHADA

rimas que ocorrem seguidamente em pares. ********* os poemas publicados aqui participaram do concurso Trajes Poéticos realizado pelo Clube de Poetas do Litoral - salvo os poemas dos autores cepelistas que foram os julgadores dos poemas.