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Domingueira Poética de 21/02/2016 - Sobre Humberto Eco

enviado por Antonio Pastori


Creio que todos já tomaram conhecimento do passamento PREMATURO de Humberto Eco.

Para relembrá-lo, selecionamos duas matérias que certamente não farão parte das matérias que a Imprensa escrita e televisa  vai divulgar sobre  il grande maestro.  

A lista começa com 6 (seis) dicas do próprio Eco para quem pretende escrever um livro, disponível em: http://www.ronizealine.com/2013/12/escreva-como-umberto-eco.html?utm_campaign=shareaholic&utm_medium=google_mail&utm_source=email 

Em seguida, dez fatos interessantes sobre sua vida, coletadas em http://blog.bookstellyouwhy.com/10-surprising-facts-about-umberto-eco-comic-books-crime-trumpets

Bom proveito. Bom Domingo.


1 - Comece a partir de uma ideia seminal
Eco diz que seus romances costumam surgir de uma ideia seminal, algo um pouco maior do que uma imagem. No caso de seu primeiro livro, O nome da rosa, a ideia seminal era “envenenar um monge”. O autor ficou impressionado com uma imagem que lhe vinha à mente, de um monge envenenado enquanto lia um livro. Como há 25 anos o autor pesquisava e colecionava fichas sobre a Idade Média para seus trabalhos acadêmicos, foi só uma questão de voltar a esse material – dessa vez com um objetivo distinto – e desenvolver a história a partir da ideia inicial.
Procure definir a sua ideia seminal em uma frase. Ela deve ser sucinta o suficiente para que possa ser explicitada rapidamente, mas também ter um grande potencial de desenvolvimento.
2. Visite os lugares
Conhecer os lugares onde se passam suas histórias é uma das técnicas que Umberto Eco costuma seguir à risca. Tendo o domínio do espaço fica mais fácil construir as cenas e distribuir os personagens pelos diferentes cenários. Durante o período de gestação de O pêndulo de Foucault, o autor costumava passar várias noites andando pelos corredores do Conservatoire des Arts et Métiers, onde acontecem alguns dos principais eventos da história. E para descrever a caminhada noturna de Casaubon por Paris, do Conservatoire à Place des Vosges e dali para a Torre Eiffel, ele perambulou várias madrugadas pela cidade ditando para um gravador tudo o que via, para que não errasse os locais e nomes das ruas. Já para A ilha do dia anterior, viajou para os Mares do Sul, para o local exato onde se passa a história. Lá pôde contemplar as cores da água e do céu em horas diferentes do dia, além dos matizes dos peixes e dos corais.
Se possível, visite os lugares onde sua história se passa. Tenha domínio do ambiente, anote tudo o que vê, até mesmo as sensações, aromas e impressões do local. Sinta-se como seus personagens se sentiriam. Imagine-os caminhando por aquelas ruas ou entrando naqueles ambientes. Familiarize-se para poder emprestar aos personagens suas sensações.
3. Pesquise e consulte documentos
No romance A ilha do dia anterior, Umberto Eco queria escrever sobre espaços naturais, abertos – ao contrário do que havia feito em O nome da rosa, no qual falara sobre os espaços confinados dos mosteiros. A ideia foi inserir o herói da história em uma ilha deserta. Ele também queria abordar a Linha Internacional de Mudança de Data, sobre o meridiano 180, da seguinte forma: o protagonista precisava ficar a oeste dessa linha e ver uma ilha a leste, onde esteve um dia antes. Ele não podia ter naufragado na própria ilha, mas precisava ter sido abandonado em um ponto onde pudesse enxergá-la. Esse local fica nas ilhas Aleutas, mas a perspectiva de ir até uma região gelada não o agradou nem um pouco. Contudo, pesquisando livros e documentos, descobriu que a Linha da Data também passava pelo Arquipélago de Fiji, de onde ele decidiu começar o romance. A partir daí, como vimos acima, ele visitou os Mares do Sul para dar início à sua pesquisa.
A ilha do dia anterior demorou seis anos para ser escrito, enquanto O nome da rosa demorou apenas dois anos, já que toda a pesquisa sobre a Idade Média havia sido feita anteriormente para a tese de doutorado de Eco, que foi sobre estética medieval, e estudos posteriores a respeito do período. Dois ou três dos seis anos gastos na produção de A ilha do dia anterior o autor passou estudando os desenhos e modelos de embarcações da época, a fim de descobrir as dimensões de uma cabine ou de um compartimento. Isso foi utilizado no livro para saber como o personagem se locomoveria de uma até o outro.
Pesquise sobre a época que você está escrevendo, personagens históricos – se há algum na sua obra -, fatos e objetos que fazem parte da história. Além de dar credibilidade à obra, também irá lhe dar domínio sobre espaço e tempo, resultando em um maior aproveitamento narrativo.
4. Desenhe mapas
O escritor deve começar sendo o criador de um mundo, que precisa ser o mais fiel possível para que se possa locomover nele com a maior segurança – é o que diz Umberto Eco. Para o romance O nome da rosa, antes de começar a escrever ele desenhou centenas de labirintos e plantas de mosteiros. Dessa forma ele sabia quanto tempo dois personagens levariam para ir de um lugar a outro, conversando no caminho. Assim, o desenho dos mapas influenciou a extensão dos diálogos de tal forma que, ao começar a produção da transposição para o cinema, seus diálogos foram elogiados por estarem no tamanho certo de uma produção cinematográfica.
Na preparação de O pêndulo de Foucault, o autor desenhou várias plantas para determinar como seria a passagem entre as editoras Manuzio e Garamond, que ficavam entre dois prédios adjacentes, e se haveria degraus para compensar a diferença de altura entre os dois edifícios. Eco diz que provavelmente o leitor não prestou muita atenção aos degraus durante a leitura, mas para ele o desenho dos degraus foi crucial para o prosseguimento da narrativa.
Faça esboços dos locais onde pretende desenvolver sua história. Calcule as distâncias, a disposição dos lugares e visualize seus personagens movimentando-se dentro desses cenários.
5. Desenhe os personagens
Para O nome da rosa, Eco fez retratos de todos os monges que aparecem na história. Isso ajudou-o a visualizar as características de cada um deles, imprimindo-lhes uma marca individual. Pode ser que você não tenha o talento para desenho muito desenvolvido, como é o meu caso. Antes de escrever minhas histórias costumo fazer uma pesquisa em revistas, folhetos e até mesmo na internet, buscando imagens de pessoas mas, principalmente, de rostos. Recorto essas imagens e colo-as em um caderno reservado para a construção dos personagens. A partir das imagens vou definindo as características, tanto físicas quanto emocionais e psicológicas. Gosto de ter o rosto de meus personagens em mente quando escrevo. Isso torna mais fácil imaginar as reações e atitudes frente às mais diversas situações.
Portanto, reserve um tempo para desenhar – ou recortar, como no meu caso – imagens do rosto de seus personagens. É muito mais fácil falar, ou escrever, sobre alguém quando temos seu rosto em mente, não é?
6. Desenvolva um estilo único
Depois de passar o tempo de gestação literária, durante o qual determinou-se o universo narrativo, fica muito mais fácil fazer as palavras fluírem de acordo com o estilo esperado – é o que nos ensina Eco. Para O nome da rosa, por exemplo, o autor utilizou o estilo de um cronista medieval, um modesto monge do século XIV: preciso, ingênuo e monótono quando necessário. Em O pêndulo de Foucault, inseriu uma mescla de linguagens: a fala educada de Agliè, a retórica fascista de Ardenti, a linguagem desencantada e ironicamente literária dos arquivos secretos de Belbo e os diálogos vulgares dos três editores.
Não pense em você como um autor de estilo único. Pense que, a exemplo da obra de Umberto Eco, seus livros têm cada qual seu estilo único. Escreva partindo de sua pesquisa prévia e faça fluir um estilo condizente com a história. E ouse, como no caso de O pêndulo de Foucault, misturar vários estilos se assim a narrativa exigir.

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10 fatos surpreendentes sobre o escritor Umberto Eco

O autor Umberto Eco faleceu inesperadamente na última sexta-feira, dia 19/02 aos 84 anos. Suas obras tem encantado gerações e gerações de leitores. No entanto, o autor também é conhecido como um grande intelectual e teórico, tendo escrito, inclusive, obras que ajudam estudantes a fazerem uma tese.
1- Umberto Eco nasceu no norte da Itália em 1943, então naturalmente estava inserido no movimento da juventude fascista como todas as outras crianças de sua idade. Foi apenas depois de 1943, quando o fascismo começou a desintegrar-se na Itália, que Eco tornou-se ciente de quaisquer outros pontos de vista políticos e, assim, pode revisar suas opiniões. 
2-  Embora o pai e a mãe fossem grandes leitores, foi através dos avós que Eco ganhou um amor pelos livros. Sua avó materna trazia para casa dois ou três livros por semana vindos da biblioteca municipal. O pai de seu pai também assumiu a tarefa de leitor, como hobby, após a aposentadoria. Eco sempre lembra da pilhas de belos livros antigos na casa de seu avô.
3- Em sua adolescência, Eco leu muitas histórias em quadrinhos e inclusive escreveu suas próprias HQs. Em uma entrevista para o The Paris Review ele recordou as muitas horas gastas para fazer com que seu livro parecesse ter sido impresso, mas o trabalho era tanto que ele nunca terminou nenhuma das HQs.
4- Eco escolheu estudar filosofia medieval e literatura quando estava na universidade. Apaixonado pela Idade Média, em duas viagens a Paris ele andou pelas ruas que já existiam naquele período histórico.
5- Antes de publicar romances, Eco criou um nome no mundo acadêmico com “Opera Aperta” (Ópera aberta em tradução livre) em 1962. Eco argumentou que os textos eram abertos e flexíveis dependendo do leitor. Alguns pensam que ele foi essencial para o crescimento da teoria de responsividade do leitor na literatura crítica, mas outros afirmam que ele simplesmente previu algo que estava por acontecer.
6- Para que você não começar a pensar nele como um intelectual empolado, sabemos que Eco tem um grande amor por programas de crime na TV como “Starsky & Hutch” , “Miami Vice” e “CSI”. Sua obsessão com o gênero policial toma o lugar central em O Nome da Rosa, cujo personagem principal é um monge na missão de resolver um crime.
7- Como vimos antes, Eco é um super colecionador de livros raros. Sua biblioteca pessoal compreende mais de 50.000 volumes entre suas duas casas. Ele usa sua biblioteca para referência para estudos e não como uma coleção de livros lidos. Uma vez, quando seu secretário queria fazer toda a catalogação de suas obras, Eco pediu que não o fizesse: como pesquisador, era na falta de ordem que se achava. 
8- Seus romances já foram traduzidos em mais de 30 idiomas e ele sempre trabalhou perto dos tradutores para decidir com eles os títulos traduzidos.
9- Conspirações, mentiras e meias verdades são temas recorrentes em suas obras, particularmente em O Pêndulo de Foucault, Baudolino e O Cemitério de Praga, cujos personagens inventam teorias da conspiração que outros acreditam ser verdade.
10- Em sua juventude, Eco gostava de tocar trompete. Então, em meados de seus 70, ele comprou um novo instrumento e voltou a tocar novamente. 

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