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"Aventuras de uma Brasileira em Paris" ** Conto de Carlos Leite Ribeiro

"Aventuras de uma Brasileira em Paris" 
Conto de Carlos Leite Ribeiro

Quando Deolinda, uma brasileira ainda jovem, embarcou no Aeroporto Internacional de Lisboa, com um grupo de amigos, tinha no seu pensamento que iria passar uma maravilhosas férias na cidade de Paris.
Quantos sonhos tivera antes e já dentro do avião a caminho da Cidade Luz.
Mas, por vezes, os sonhos custam a realizar, pois quase sempre a realidade se sobrepõe ao sonho. Quando chegou ao aeroporto de Orly tinha à sua espera uma legião de amigos dos seus amigos, alguns franceses, outros portugueses e até luso-descendentes. Depois das apresentações rumaram todos em dos grandes automóveis para uma cidade que ficava longe do centro da cidade de Paris. Ficou algo surpreendida e até desagradada, mas como se diz “não deu parte fraca”. O pior viria a seguir, pois, seus amigos e “colaram” a seus familiares e amigos e numa língua em que se misturava um português algo arcaico e um francês quase legítimo, Deolinda sentiu-se com que perdida, ou a mais naquele ambiente em que as conversas invariavelmente andavam à volta de críticas a outras pessoas.
Na segunda noite, custou a adormecer e muito pensou no seu longínquo Brasil. Aqui, era tudo diferente. Sentiu saudades de sua casa, do seu cão a quem chamava carinhosamente “saco de pulgas”, dos seus pintos e galinhas e dos meigos coelhos, os quais tratava com especial carinho. Além do seu computador, muitas vezes o “seu fiel amigo” para o desabafo de sua vida. Antes de conseguir adormecer, tomou uma resolução: na manhã, enquanto todos estivessem a dormir, saia de casa e depois de andar cerca de 20 minutos a pé, apanharia um ônibus que a levaria a uma estação de Metro, que a levaria enfim ao centro de Paris.
Se pensou, melhor, melhor executou. Mal a claridade de um novo dia apareceu, ela pôs-se a caminho. O tempo estava frio e ela levava um casaco comprido preto, também cor de suas calças e na cabeça um boné de malha de pala preto e branco. Nas costas transportava uma indispensável mochila com seus pertences, de uma mala a tira colo, preta e com uns enfeites prateados tendo bordada uma pequena bandeira do seu Brasil.
O Metro deixou-a nos belos e célebres Campos Eliseos. Num dos inúmeros quiosques que por lá proliferam, comprou uma embalagem grande de pipocas e uma embalagem de sumo de manga. Sentou num banco de madeira do jardim, onde começou a comer as pipocas e ao longe a admirar a Torre Eifell; mais além o Arco do Triunfo, lembrando-se de familiares que tinha nesta cidade pernambucana do mesmo nome.
Descansou um pouco mas um desejo quase incontrolável a assaltou, queria subir à Torre Eifell, embora nunca tivesse prelecção por grandes alturas. Mas ela era valente e de certeza que ia chegar ao último andar da torre, onde ela calculou que lá do cimo teria uma soberba panorâmica sobre a Cidade Luz.
Antes de qualquer arrependimento, levantou-se resolutamente e em passos rápidos dirigiu-se ao seu objectivo. Como ia confiante!
Quanto mais se aproximava da torre, mais esta se mostrava mais alta. Chegou mesmo a pensar em desistir, mas não, tinha que vencer o seu próprio medo. Já na base, meteu-se numa fila para comprar o bilhete de acesso. Atrás de si, apareceu uma linda jovem, também vestida como a Deolinda, só com um cachecol também aos quadrados pretos e branco, que lhe dirigiu a palavra:
- Estou vendo que também é brasileira.
- Sim sou, e Nordestina! Chamo-me Deolinda, mas os amigos tratam-me por “Deo”.
- Curioso, também sou do Nordeste do Brasil! Chamo-me Catarina e os amigos tratam-me por “Teka”. Estou em Paris aproveitando uma bolsa de estudo, na área da saúde.
Enquanto a Deo e a Teka, falavam do seu país enquanto aguardavam na fila apareceu um homem ainda novo que as interpelou:
- Que belas mademoiselles! Vê-se logo que são brasileiras, mulheres que se sobressaem em qualquer parte do mundo. Vive alguns anos no belo país que é o Brasil, daí, eu falar um pouco português.
As duas brasileiras, olharam uma para a outra, sorriram e piscaram o olho uma à outra. Já tinham ouvido dizer que Paris é a cidade do amor…
O silêncio das duas brasileiras, foi motivo para o homem continuar a atacar:
- O meu nome é Renault e só descendente directo dos Condes de Paris. Tenho um maravilhoso castelo no vale do Seine, que desde já as convido a serem minhas convidadas. Peço-vos a gentileza de tirarem o meu bilhete para as poder acompanhar ao cimo deste grandiosa torre. E podem crer que não podiam arranjar melhor cicerone!
Já no cimo da Torre Eifell, o Renaut mostrou-se conhecedor de todos os cantos de Paris, o que impressionou as duas jovens, que apesar de tudo se mostravam algo reservadas. Segredaram entre si:
Teka: - O cara será mesmo descendente dos Condes de Paris?
Deo: - Duvido muito. Parece-me mais com aspecto de gigolô.
Desceram uns andares e entraram num bar, onde se sentaram numa esplanada virada ao rio Sena. Conversa puxa conversa, o Renault perguntou-lhe o que ela faziam no Brasil. A Deo, mais expedita do que sua companheira, respondeu-lhe quase sem hesitar:
- Tenho um grande rancho com muito gado e muitos peões. Até sou conhecida por todo o Brasil como a Rainha do Gado.
Já a Teka, um pouco mais hesitante, a muito custo, lá conseguiu inventar:
- Bom, eu sou proprietária de uns poços de petróleo, que muita família me deixou em testamento.
O francês mostrava-se cada vez mais entusiasmado com o relato das amigas.
- Hoje, bem posso considerar o meu dia da sorte. Encontrar duas belas e ricas brasileiras que convínhamos, se coadunam com a minha estirpe de Conde de Paris.
Eufórico com sua sorte, o Renaut convidou-as para um jantar num restaurante luxuoso do primeiro andar da Eifell.
Como bom e desinteressado cicerone, o francês encomendou todo do melhor até champanhe para aperitivo.
- Sempre tive a ambição de dirigir um grande rancho com muitas cabeças de gado. Ver picar um boi para as piranhas o comerem para o resto da manada poder atravessar um rio em segurança. Deve ser emocionante, assim como assoprar num berrante para conduzir a manada.
Deo: - Por acaso, até estou a procurar um bom dirigente para o meu rancho. Simplesmente, tem de prestar provas e rigorosas… 
Renaut: - E que provas são essa?...
Deo: - A primeira prova, e a de apanhar “coquinho” na praia num dia de calor; e a última, é atravessar a nado um rio no Amazonas.
Renault: - Apanhar “coquinho” não deve ser muito difícil, não… Agora, atravessar um rio do Amazonas a nada… Por acaso não tem jacarés?
Deo: - Pode haver um ou outro, assim como sucuris e piranhas, mas são domesticados.
Renault:- E a Teka não precisa de um administrador?
Teka: - Precisar, precisava mas mais de um mergulhador para descer a dois mil metros.
Renault: - a dois mil metros?!... Bem, como já jantámos, vou telefonar a um meu primo, que é Visconde, para nos vir buscar. Como já é um pouco tarde, vamos ficar os quatro numa boa pensão. Peço permissão a tão belas damas para sair da mesa para fazer o telefonema.
Deo: - Esteja completamente à vontade que nós, pacientemente, o vamos esperar!
Quando o francês saiu do campo de visão das amigas, estas voltaram-se uma para a outra e quase em uníssono disseram:
- Vamos aproveitar para fugir!
Apanharam e táxi e rapidamente afastaram-se daquele local.
Teka: - Deo, onde vais pernoitar?
Deo: - Não faço a menor ideia pois não reservei nenhum quarto em hotel nem em pensão.
Teka: - Então podes ficar no meu estúdio, pois a minha colega de faculdade foi visitar os pais e só regressará daqui a três dias.
No pequeno estúdio da Teka, já deitada no seu beliche que a colega lhe cedeu, custou a adormecer e foi pensando nos acontecimentos daquele dia. Tinha visto ou visitado:
Além da Torre Eiffel é uma grande estrutura de ferro, projetada pelo engenheiro Gustavo Eiffel por ocasião da Exposição Universal de 1889. Embora essa torre tenha se transformado no símbolo incontestável da cidade, no momento de sua construção, o seu espetacular projeto arquitetônico provocou muita polêmica na sociedade parisiense. A Torre Eiffel demorou dois anos para ser concluída, alcançando uma altura de 324 metros. É possível chegar à parte superior da torre por sua escada de 1665 degraus ou por meio de um elevador. De cima da torre você terá uma vista privilegiada de Paris, embora seja possível chegar ainda mais alto: um elevador permite chegar até o ponto culminante da torre, a mais de 300 metros de altura. Localizada diante do parque Champ de Mars, atualmente a Torre Eiffel é o monumento mais visitado do mundo. Após o pôr do Sol, todas as noites a Torre Eiffel é totalmente iluminada por mais de 20.000 lâmpadas e 300 projetores. Nos 10 primeiros minutos de cada hora, a torre brilha em um jogo de luzes que domina o horizonte de Paris.
Tinha gostado também de visitar os Campos Eliseos (Les Champs Elysées) que é uma grande avenida que vai da praça da Concórdia ao Arco do Triunfo. Uma das avenidas mais famosas do mundo. A Champs Elysées foi projetada em 1667 por André Le Nôtre, o jardineiro do rei Luís XIV, com o objetivo de melhorar a vista que tinha do Jardim de Tuileries, situado bem na saída do Palácio do Louvre. Essa avenida foi ampliada durante o séc. XVII e actualmente mede aproximadamente dois quilómetros de comprimento, contando com uma seleção da melhor oferta de lazer de Paris.

Na manhã seguinte quando a Teka a acordou, Deo perguntou-lhe onde estava. Dando uma sonora gargalhada, a mais jovem respondeu-lhe:
Teka: - Olha Deo, tu não estás com o Conde de Paris nem eu com o Visconde não sei de quê. Levanta-te e vai tomar banho para depois tomarmos o café da manhã. Depois vamos visitar Paris e fazer umas compras.
Antes de sair, a Deo não resistiu a ir ao computador ver o seu correio, e deixou escapar um desabafo:
- Nem em Paris estes Grupos e esta gentinha me deixam em paz. Então o chato de um português, cada vez está mais impossível. Vão todos dar uma “voltinha”, para não os mandar para um sítio pior!
Por fim saíram para a rua e a Teka foi dizendo a sua amiga que estavam na Ilha de França. Perante o espanto de sua colega, esta começou a contar-lhe factos históricos daquele local.
Teka: - A região foi habitada depois da pré-história, tendo sido encontrados traços de monumentos megalíticos, que acabaram destruídos pela urbanização. Na época gaulesa, o território atual da Île-de-France era ocupado por quatro tribos gaulesas: no centro estavam os parisii, cuja capital Lutèce transformar-se-ia em Paris; no norte, os veliocasses, a oeste os carnutes, e no sudoeste estavam os senones, que estabeleceram a sua capital em Sens. O nome Île-de-France surgiu muito mais tarde, depois do estabelecimento dos francos, e correspondia à planície situada ao norte do rio Sena, que eles chamavam de País da França.
A região da Île-de-France nasceu do domínio real constituído depois do século X, pelos reis da dinastia dos Capetos. Seus limites variaram muito até o fim do regime vigente à época. A província alargou-se na direção oeste, e, sobretudo sobre a norte, e era mais vasta do que a atual, considerando-se as direções leste e sul. Formava uma zona de interesse econômico para as corporações mercantis de Paris, o que então contribuía para a fixação dos seus contornos. Depois da Revolução Francesa, a região foi decomposta em três departamentos - Seine, Seine-et-Oise e Seine-et-Marne. Em 1965, os departamentos passaram de três para oito, além de incluir Paris. Como resultado do desmembramento dos antigos Departamentos de Seine e Seine-et-Oise, foram criados os departamentos de Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis, Val-de-Marne (limítrofes de Paris, que constituem a chamada pequena coroa); Val-d’Oise, Yvelines e Essonnee (não limítrofes de Paris, que formam a grande coroa).
Deo: - Muito obrigado pela lição de história. Em certos momentos, até parecias um amigo português que tenho que história, é com ele. Mas é um grande chato.
Teka: - É chato por saber de história?!
Deo: - Não é só por isso. É chato por ser chato. Já é defeito de fabrico!
Apanharam um ônibus para a Praça da Concórdia e ao chegar, a Deo disse logo que já tinha visto aquilo de longe. Sempre com um belo sorriso nos lábios, a Teka com toda a paciência do mundo, disse-lhe:
- Visto de longe é uma coisa, mas ao perto temos melhor percepção da realidade. Estamos na Praça da Concórdia: “que é a maior de Paris e separa o Jardim de Tuileries dos Campos Elíseos. Construída entre 1754 e 1763 para a colocação de uma estátua real em seu centro, essa praça foi o cenário de muitas execuções durante a Revolução Francesa. Foi no centro dessa praça que se colocou a guilhotina que acabou com a vida de Luis XVI e Maria Antonieta, entre centenas de outras execuções. Após a revolução, essa praça foi baptizada como Place de la Concorde. No centro da praça foi colocado o Obelisco de Luxor, um presente que a França ganhou do vice-rei do Egipto em 1836. Actualmente, junto ao impressionante obelisco de 22,83 metros de altura, e aprecie as duas fontes de inspiração romana e oito estátuas, cada uma delas representando uma cidade francesa diferente”.
Deo:- É um conjunto muito lindo! Gostava de poder levar uma fonte destas para a Praça das Flores de minha terra, que até tem um relógio ao meio.
Teka: - Antes de irmos almoçar num restaurantezinho brasileiro da Rue do Havre, vamos visitar o Arco do Triunfo.
Deo: - Tekazinha, como já te disse, já vi o arco de longe…
Teka: - Tem calma, até pareces uma tia chatérrima que tenho. Tu nem viste os Inválidos…
Deo: - Inválida ficarei eu se me obrigares a andar muito a pé!
Teka: -  És tão chata como a tal minha tia. Aprende que eu não posso durar sempre: O Arco do Triunfo (do francês Arc de Triomphe) é um monumento, localizado na cidade de Paris, construído em comemoração às vitórias militares de Napoleão Bonaparte, o qual ordenou a sua construção em 1806. Inaugurado em 1836, a monumental obra detém, gravados, os nomes de 128 batalhas e 558 generais. Em sua base, situa-se o Túmulo do Soldado Desconhecido (1920). O arco localiza-se na praça Charles de Gaulle, uma das duas extremidades da avenida Champs-Élysées. Iniciado em 1806, após a vitória napoleônica em Austerlitz, o Arc de Triomphe representa, em verdade, o enaltecimento das glórias e conquistas francesas, sob a liderança de Napoleão Bonaparte: seja este oficial das forças armadas, esteja ele dotado da eminente insígnia imperial. A obra, no entanto, foi somente finalizada em 1836, dada a interrupção propiciada pela derrocada do Império (1815). Com 50 metros de altura, o monumental arco tornou-se, desde então, ponto de partida ou passagem das principais paradas militares e outras manifestações.
Deo: - Gostei muito de visitar in locco este arco. podes crer. Mas agora, Tekinha, onde podemos comer, pois estou com muita fomeeeeeeee?!
Teka: - Vamos já a caminho da Rue Le Havre e vamos almoçar ao restaurante e pratos brasileiros, o LÁcrobate. Se tivesse de escolher entre ti e minha tia, escolheria a tia pois esta diz que nunca tem fome. A não ser em Sintra no “travesseiros” ou “queijadas” especialidades de doçaria daquela bela terra portuguesa!
Deo: - E se vamos encontrar o Renault, o tal Conde de Paris?
Teka: - É praticamente impossível. Podemos encontrar outros “engatatões”, mas o Conde é pouco possível – dando uma gargalhada, continuou – Imagina que ontem perdi o “amor” possível de um Visconde não sei de quê! Ahahahah
Quase à entrada do L’Acrobate, ouviram vozes de dois homens que caminhavam atrás delas. Dizia um:
- “Amigo ao ver estas duas beldades que vão à nossa frente, lembro-me que meu pai queria que eu fosse padre!”
E o outro complementou:
- “São o tipo de mulheres que o médico me receitou em doses elevadas, entre a meia-noite e as seis da manhã!”
Voltando-se para trás, a Deo avisou-os:
Deo: - Vocês são portugueses mas tenham cuidado pois nós vamos ter com os nossos maridos que não são flor de cheirar…
Teka: - O meu marido é campeão do mundo em luta livre. Circulem, circulem para vosso próprio bem…
Já dentro do restaurante, as duas riam-se do que tinham dito aos portugueses, que, misteriosamente, ficam sempre “aluados” quando vêem uma brasileira.
Pediram picanha, com feijão preto, arroz branco e vinagrete.
Deo: - Depois de este saboroso almoço, apetecia-me dormir um pouco. Sinto-me cansada.
Teka: - Nem quero acreditar no que estou a ouvir! Vens visitar Paris e queres ir dormir? Já deve ser devido à tua idade! Vamos sir do restaurante e vamos passear, vamos apanhar ar.
Deo: - Estou a ver que já delineaste o que vamos visitar – estou certa?
Teka: - vamos a um lugar que decerto vais gostar muito. Despacha-te para apanharmos aquele ônibus.
Deo: - Para onde me levas? Olha que estou muito cansada, pois hoje andei muito a pé e doem as minha perninhas…
Teka: - Vamos a um lugar onde podes pedir perdão pelos teus pecados!   ahahahah.
Deo: - Eu sou uma mulher sem pecados; bem, a não ser quando me fazem irritar…
Minutos depois o ônibus parou perto da Catedral Notre-Dame, onde as amigas saíram, com a Deo a protestar:
Deo: - Nem quero acreditar que vou visitar uma igreja!
Teka: - Claro que não vais visitar nenhuma igreja, mas sim, a célebre Catedral de Notre-Dame. Esta Catedral foi nos finais do século XVII, durante o reinado de Luís XIV, palco de alterações substanciais principalmente na zona este, em que túmulos e vitrais foram destruídos para substituir por elementos mais ao gosto do estilo artístico da época, o Barroco. Em 1793, no decorrer da Revolução francesa e sob o culto da razão, mais elementos da catedral foram destruídos e muitos dos seus tesouros roubados, acabando o espaço em si por servir de armazém para alimentos. Com o florescer da época romântica, outros olhares são lançados à catedral e a filosofia vira-se para o passado, enaltecendo e mistificando numa aura poética e etérea a história de outras épocas e a sua expressão artística. Sob esta nova luz do pensamento é iniciado um programa de restauro da catedral em 1844, liderado pelos arquitectos Eugene Viollet-le-Duc e Jean-Baptiste-Antoine Lassus, que se estendeu por vinte e três anos. Em 1871, com a curta ascensão da Comuna de Paris , a catedral torna-se novamente pano de fundo a turbulências sociais, durante as quais se crê ter sido quase incendiada. Em 1965, em consequência de escavações para a construção de um parque subterrâneo na praça da catedral, foram descobertas catacumbas que revelaram ruínas romanas, da catedral merovíngia do século VI e de habitações medievais. Já mais próximo da actualidade, em 1991, foi iniciado outro projecto de restauro e manutenção da catedral que, embora previsto para durar dez anos, se prolonga além do prazo.
Deo: - Bravo! Já sei sua história e assim, já podemos ir para casa!
Teka: - Tem calma, minha amiga. Vamos calmamente visitar seu interior e depois sim, vamos descansar para casa. Isto se não aparecer um “gato sacristão” que nos desencaminhe! Hahahah!
Visitaram minuciosamente este belo monumento parisiense, embora com muitas queixas da Deo, que, segundo ela alem das bolhas nos pés e dores nos músculos das pernas, sentia uma unha do pé grande a encravar. Sem bem-disposta e alegre, a Teka ia-lhe dizendo que tinha em casa uma enorme tesoura para desencravar unhas ou mesmo para lhe cortar o dedo dorido se caso fosse possível.
Quando saíram da Catedral, foram a uma casa especialista em pizzas onde encomendaram duas de gosto diferentes e umas embalagens de IceTea com sabor a manga.
Chegadas ao estúdio da Teka, a Deo atirou-se para cima da cama de beliche e logo adormeceu esquecendo-se da tal “unha encravada”. Acordou perto da meia-noite e logo protestou por não ter visto o episódio da telenovela que andava a seguir. Mas logo se lembrou que tinha fome e logo devorou uma das pizzas, sem perguntar à Teka se também queria um triânguluzinho. Lembrou-se no fim desculpando-se que, quando uma pizza lhe agrada, está se esquece de dividi-la com outros. A Teka ria-se a bandeiras despregadas com aquela amiga de poucas horas. Esta ainda lhe perguntou se queria que ela lhe cortasse a unha encravada. Enrolando-se ainda mais no cobertor, respondeu-lhe com voz sonolenta:
Deo: - Quero lá saber da unha! Quero é dormir, pois, amanhã é o último dia de liberdade em Paris…

Quando acordou na manhã seguinte, a Leo estava muito mal-disposta, mas logo a Teka, meio a sério meio a brincar lhe foi dizendo que não estava para aturá-la, se ela quisesse sair sozinha, que o fizesse. Um reparador banho e um farto café matinal, devolveu-lhe (como se fosse possível) a sua boa-disposição. Vestiu-se e calmamente perguntou à amiga:
Deo: - Tekazinha, onde vamos hoje passear? Olha que é o último dia que passo em Paris e tu tens sido uma “santa” em aturar-me…
Teka: - Até fico ofendida de me dizeres isso. Tu até és uma moça sociável, bondosa e educada. Antes de sair-mos queres que eu te corte a unha encravada?
Deo: - Qual unha encravada, Tekazinha?
A moça mais jovem levou sua amiga a visitar a Praça da Bastilha. O Metro deixou-as perto e a Teka logo começou a contar a história daquele locar muito conhecido mundialmente.
Teka: - “Esta Praça da Bastilha está localizada no mesmo local onde se encontrava a tenebrosa prisão da Bastilha até o momento de sua destruição, durante a Revolução Francesa de 1789. A prisão da Bastilha tinha sido construída entre 1370 e 1383 e era ali que eram encarcerados os prisioneiros políticos e religiosos. Essa prisão se transformou no símbolo da opressão, sendo destruída pelos insurgentes durante a Revolução Francesa. Actualmente, tanto a praça como a área que a rodeia são conhecidas pelo nome de Bastilha. Merece destaque o seu monumento central, a Colonne de Juillet (Coluna de Julho), que foi erigida em homenagem à revolução de julho de 1830. Lá também se encontra o edifício da Ópera da Bastilha e uma parte do Canal de Saint Martin. Além disso, a Praça da Bastilha costuma ser utilizada como cenário para concertos e vários eventos, contando com uma grande oferta de bares e salas de espetáculos”.
Como tu és pela liberdade, espero que tenhas gostado de visitado este local.
Deo: - Claro que sou pela liberdade quando não tenho que andar muito a pé! Mas gostei demais de visitar este local. E agora o que vamos visitar?
Teka:- Vai conhecer Montmartre e admirar uns pintores que pintam nas ruas à frente dos turistas. Vais ficar encantada com tanta arte que sai espontaneamente dos seus artistas, alguns dos quais muito jovens.
Deo: - Vamos então e se encontrar algum quadro que goste, compro-o se não for muito caro.
Já em Montmarte, a Teka contou um pouco da vida dos seus artistas do pincel, pois o pouco tempo que disponham, não dava para mais.
Teka: - “Estamos na Place du Tertre e podemos admirar amontoados, eles mesmos a formar uma tela pitoresca, pintores actuais e suas obras, muitos a pintar Montmartre diante dos turistas. Pouco abaixo, um museu com as obras de Salvador Dali. Imperdível o Museu de Montmartre, imortalizando a boémia da colina, cabarés, pintores, assinaturas “de ouro” de toda uma época muito rica e criativa. Poesia pode ser o deixar a butte descendo as escadarias em pedras multiformes da Rua Foyatier. Ladeada por árvores entristecidas, cortada, ao centro, pela fileira de antigos lampiões, a rivalizar suas luzes cálidas com o expirar tênue do sol, a ladeira inspira... Tem-se a vontade de descer calado, sob a brisa fria”.
Deo comprou um grande quadro a preço muito barato. Talvez demasiadamente barato…
Como começou a chover  e com o quadro não podiam ir de transporte público, apanharam um táxi que as levou até ao Louvre, embora a Leo torcesse o nariz e a dizer que os museus cheiram a mofo e só têm coisas antigas. A Teka sorria e fingia não ouvi-la.
Ao chegar ao célebre Museu do Louvre que tem uma soberba arquitetura, ao abrir a mala do carro. A Leo teve uma grande surpresa e decepção ao ver que o quadro que tinha comprado em Montmartre, com a chuva tinha esborratado toda a pintura. Furiosa e dizendo algo que não podemos escrever, atirou o quadro e moldura para muito longe. Sentou-se num banco à porta do Museu e perto da Pirâmide não querendo sair dali. Mais uma vez a Teka, apelando para a sua boa-vontade conseguiu que a amiga se dispusesse a visitar o Louvre.
Teka: - Quem vem a Paris e não vista o Louvre, é como visitar Roma e não ir ao Vaticano.
Deo: - Vamos lá então querida amiga e desculpa este meu mau gênio que por vezes fica incontrolável.
Enquanto estavam na fila, a Teka foi-lhe contado a história deste Museu conhecido e apreciado mundialmente.
Teka: - “Querida amiga, o Louvre é grandioso e maravilhoso! Construído em 1190, foi uma fortaleza para os ataques dos vikings, na época do rei Felipe Augusto. Depois de quatro séculos e de várias reformas, inclusive a polémica pirâmide de vidro, está agora mais completo do que nunca, com uma das mais importantes coleções do mundo!  Vamos ver a "Monalisa",de Leonardo da Vinci, que fica lotada de admiradores...as crianças também se encantam! Depois as maravilhosas coleções de Rafael, Rembrandt, antiguidades gregas, como a Vénus de Milo, pinturas egípcias (que mostram famílias em tamanho natural de 2500 antes de Cristo), esculturas europeias, móveis, tapeçarias, porcelanas Limoges, miniaturas, jóias deslumbrantes, até tesouros da Coroa Francesa usados por Napoleão e Luís XV! É emocionante e impossível visitar todas galerias num só dia... Quem não foi ao Louvre, não foi à Paris...”.
Depois da visita, as duas amigas foram até às margens do rio Sena e no barco improvisado de bar, descansaram e divertiram-se em ver o tráfico daquele rio. Barcos de todos os feitios e alguns muito coloridos. Era o seu último dia passado em Paris, pois, no dia seguinte, logo pela manhã tinha que ir ter com os amigos que os tinha deixado nos arredores de Paris. Nem queria pensar nisso, mas o relógio não pára e a hora cada vez estava mais perto. Para despedida, o tempo em Paris não estava nada bom, pois chovia e fazia vento desagradável.
Já a caminho do estúdio da Teka, pararam numa pizzaria e desta vez compraram três pizzas, não fosse a gula da Deo apetecer comer pizza e meia!
Cansadas e com o tempo frio, adormeceram rapidamente depois do jantar.

A Manhã chegou e com sol como a despedir-se da Deo. A Teka acompanhou até ao ônibus que a levaria de volta ao convívio dos seus amigos, que segundo a amiga, baralhavam o francês com o português, falando por vezes um dialecto desconhecida para a Deo.

Quando entrou em casa seus amigos perguntaram-lhe:
- De onde vens?!
Sentando-se numa cadeira, pondo as mãos como a segurar a cabeça e com os olhos fechados, secamente respondeu:
- Do paraíso! 

Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal

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