(...) “Você pode me
fuzilar com palavras/E me retalhar com o seu olhar/Pode me matar com o seu
ódio/Ainda assim, como o ar, vou me levantar”.
Maya Angelou ( (1928-2014)
Vivemos sobre camadas soterradas pela urgência.
Ansiedade: nossa
vida virou mercadoria.
Não, nada digo de novo.
Tudo é descartável – e estamos submetidos ao lixo
eletrônico.
(Não, não é só porcaria.)
A virtualidade seria (também) um álibi para compensar o
“ilhamento”, a falta de contato real?
O que valem os outros?
(Amizade, toque, longe da obsessão de aparecer, de ser
celebridade.)
Tudo vale só um instante.
Tudo se dissolve.
Redes sociais, dogmatismo, carência de debates adultos, e a
demonização do outro – se discorda das nossas ideias.
Prevalece a intolerância.
É o hiperindividualismo veloz.
Quem realmente lê, longe das engenhocas eletrônicas.
Tenho me repetido?
Sim. É para ser escutado.
Vai parecer pieguice (paciência): parece triunfante o
desinteresse completo pelo outro.
Se alguém falar em compaixão, poderá ser ridicularizado.
Repito: compaixão: não
piedade.
Tudo parece ser hierarquizado pelo pior.
É claro, estamos sentados num mercado consumidor.
Que não consome, não é nada.
É preciso de rebanhos cada vez maiores. É subliminar.
Nada de dissidência.
Não é preciso mais de choque elétrico, tortura e exílio.
O exílio é aqui
mesmo.
Pessimismo?
Quem sabe: é possível fazer algo.
Mas é preciso pensar, longe dos fundamentalismos.
Alguém se lembrará de nós?
Isso também não importa: não estaremos mais aqui.
Mesmo se alguém lembrar, isso não nos atingirá mais.
Filosofia de botequim? Também.
Mas é preciso que cada dia seja abençoado.
Resistir? Sim. É um
lugar-comum. É. E continuar – pássaros, mar, amigos, um café quente, um gosto
de partilha, este domingo com pássaros cantando, e céu azul.
(Brasília, junho de 2014)
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