UM MOÇO DO SUS
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Não há nada de napoleônico, de “especial” na estória real abaixo.
É
absolutamente anônima.
Deve ser a de muitos brasileiros.
Sim, é real.
O moço (não sei o seu nome) tinha 22 anos. Havia sido aprovado num concurso federal.
Morava em Salvador. Era de
família
humilde.
Não sei
muitos detalhes.
Descobriu um câncer no pâncreas em estágio avançado.
Era um moço – vamos classificar assim –
do SUS.
Já estava
hospitalizado. O câncer
havia passado para outros órgãos.
“Se é só isso por
que me contas?”, indaga
um leitor imaginário.
Porque preciso.
Quem me relatou foi uma
nora –
enfermeira séria e
competente, e que esteve com o “moço do SUS”.
Numa noite, ele pediu para
sua mãe
dar-lhe um abraço – um longo abraço.
“Quero dormir um pouco, mãe”, ele pediu.
A mãe deu-lhe
o longo abraço.
Sentimentalizo o relato?
Foi assim que me foi contado.
Não vou
tentar interpretar o significo deste abraço.
O “moço do SUS” não acordou mais.
Repito: tinha só 22 anos.
É uma
morte anônima, não midiática, não sai na
TV nem nos jornais – que só os mais chegados comentam. Quase ninguém tem conhecimento da referida morte.
Era um brasileiro que nem
eu –
que nem nós.
O que teria sido a vida
futura deste moço?
O relato é este.
Lembrei-me do (grande)
escritor Graham Greene (1904–1991), em “O
Americano Tranquilo (“The Quiet
American”): (...) “Não queríamos que nada nos lembrasse quão pouco contávamos – quão rápida, simples e anonimamente chegava a morte. (...)
Gostaria que a morte chegasse com a devida
advertência,
de modo que pudesse preparar-me. Para que preparar-me?
Eu não sabia
para que nem como me preparar – a não ser que
fosse para lançar um último olhar ao pouco que estaria deixando neste mundo”. (...)
(Brasília,
outubro de 2016)
postagem enviada pelo autor.
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