TEMPO
EMANUEL MEDEIROS
VIEIRA
“O mal não está em que a vida promete largo
e dá estreito: o mal é que ela sempre dá e depois tira.” (Juan Carlos Onetti)
“Me colocaram no tempo, me puseram
uma alma viva e um corpo desconjuntado.
Estou limitado ao norte pelos sentidos, ao sul
pelo medo, a leste pelo Apostolo São Paulo, a oeste
pela linha educação.” (...) (Murilo
Mendes)
O Tempo não roerá o verso da
minha boca, reivindica a poeta.
Crônica? Não sei. Mas é sobre
essa “brevidade infinita” que chamamos de tempo, que eu gostaria de meditar.
Os mais radicais dizem que o
tempo não existe.
Mas ele está aqui, nos meus
calcanhares, no domingo à tarde –, outro que se esvai, assim, sempre. Ou o
tempo é uma ilusão?
Não, não é a busca da
notoriedade efêmera, o que queremos com a literatura.
(Refiro-me àqueles que sabem
que seu ofício é mais que marketing.)
Nem aspiramos prebendas.
A pergunta de sempre: por que
escrevemos?
Ou melhor: por que
continuamos?
Poucos parecem se interessar pela
palavra.
A imagem prevaleceu.
E a internet acelera a comunicação.
Não a aprofunda.
Mas é preciso persistir e
continuar acreditando na permanência da literatura.
Sabemos – com Freud – que
podemos reconhecer apenas um pequeno fragmento dos nossos ímpetos, e um
fragmento ainda menor dos ímpetos de outras pessoas.
Desistiremos por essa razão?
Da subjetividade que nos
exila e da objetividade que nos esmaga?
Ainda mais num mundo em que
todo parece se “derreter”, em que tudo é descartável, em que nada parece
perdurar.
Como observou Milan Kundera,
a ideia do eterno retorno designa uma perspectiva na qual as coisas não parecem
ser como nós as conhecemos: elas nos aparecem sem a circunstância atenuante de
sua fugacidade.
E tudo é fugaz.
Alguém disse que a morte
sempre vence, porque tem mais tempo.
E escrever, é também uma busca
de transfiguração.
Transfigurar para eternizar.
É isso o que importa.
Não a doentia busca de notoriedade ou fama que, no mundo em que
vivemos, todos parecem querer conquistar a qualquer custo.
Mesmo que se venda a própria
alma.
O fundamental é manter-se
fiel a si mesmo.
Não é fácil.
Mas só assim preservamos a nossa
essência e os nossos valores.
“Se cada segundo de nossa
vida deve se repetir um número infinito de vezes, estamos pregados na
eternidade como Cristo na cruz”, observa Kundera.
Por isso, Nietzsche afirmava
que a ideia do eterno retorno é o mais pesado dos fardos.
Como criadores, em nossas
narrativas, buscamos criar uma teia de sentido, num mundo que parece ter se
desencontrado do núcleo do humano.
Perdemos o eixo na chamada
pós-modernidade?
Na hegemonia do fragmento, é
preciso buscar um caminho que reconcilie
SER E DESTINO.
(Emanuel Medeiros Vieira)
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