O Sr. Fradinho bastante
claro, garboso, carregava com elegância uma pinta lateral que o fazia se
destacar dos demais habitantes daquele canto do velho armazém.
Esse armazém era de um
português bigodudo e abastecia o vilarejo e aos moradores das redondezas.
Esse Sr. Fradinho a quem
chamaremos de Frá, residia com sua família, todos claros e todos com a mesma
pinta genética que os diferenciava dos demais feijões, como já foi dito, em um
canto desse armazém de roça.
Frá chegara ao armazém em
seu saco de moradia, vindo de longa distância, na caminhonete do” seu” José,
juntamente com outras sacas, todas como a sua, fechadas, costuradas, lacradas e
por essa razão, não pudera observar á
paisagem percorrida e tampouco confraternizar com as outras espécies.
Descarregadas as sacas e
abertas, revelou ao mundo seu conteúdo e, aos feijões passageiros e moradores,
o ar, a luz, o mundo, a vizinhança.
A princípio, se deslumbraram com a luz, os
ruídos, as cores, os cheiros e as espécies outras que ali se encontravam, ou
por ali transitavam, pois ali havia bichos grandes e de duas pernas,
verdadeiros gigantes que os examinavam, avaliavam e, por vezes os arrebatavam
das respectivas sacas e carregavam um punhado de seus parentes ou de vizinhos.
Frá notou que havia também
outros animais de quatro patas, uns com rabo, outros sem, alguns com pernas,
outros voavam e, ainda aqueles que rastejavam, não esquecendo os que pulavam e
nem os que cantavam.
Tantas espécies, tantos seres
diferentes, esquisitos, belos e, tantos assustadores!
Frá descobriu que nas moradias
vizinhas, havia outras espécies de grãos, uns amarelos chamados de milho,
alguns brancos, magros e pequenos, que eram da família do Arroz, outros
moreninhos e que cheiravam forte e gostoso, os Cafés e, várias outras espécies
ou famílias habitavam as sacas vizinhas, como havia ainda as sacas dos feijões,
alguns grandes como os Jalos, outros rajados como os cariocas, brancos,
roxinhos, pretos, mas todos estes, soube Frá, que eram seus parentes.
Assim se passavam os dias e
assim Frá foi descortinando e conhecendo o mundo, ou melhor, o seu mundo, os
seus familiares, os de sua raça, os parentes, os parentes afins e os seus
vizinhos, cada grupo com suas características, aparências, finalidades,
histórias ou históricos, tradições e seus valores ou, seu valor.
Frá ia levando a sua vidinha
até que um dia, chegou uma nova saca ao armazém e, quando esta foi aberta, Frá
descobriu de novo a vida. Passou a ver
tudo diferente, com outra perspectiva, passou mesmo a olhar tudo com outros
olhos e a se remexer na saca, querendo chamar a atenção, saltitando tanto que
caiu ao chão e tudo isso só para ver á Rosinha, uma tenra e rosada feijãozinha
que vivia com sua família na saca dos feijões rosinha, de uma espécie que ele
ainda não conhecera mas, que estava sendo apreciada pelos gigantes que freqüentavam
o armazém.
Bom, voltemos ao tombo do Frá...
e não é que deu certo? Um filhotinho de gigante de duas pernas, erguendo do
chão aquele feijão de pinta, que outro não era que o nosso Frá e, por descuido
ou, inspirado por Cupido, o jogou na saca da Rosinha.
Estranhado por alguns, bem
recebido por outros, o caso é que Frá foi adotado pela família dos feijões Rosa
e eu soube depois, que seu romance com a bela Rosinha, deslanchou e que viveram
felizes para sempre, como uma verdadeira família unida pelos laços do amor e do
destino, até que foram parar juntos... no mesmo caldeirão!
Esse romance do Frá com a Rosinha,
nos mostra que o verdadeiro amor não olha para aparências, para cor, raça ou
mesmo credo, ele derruba barreiras e agrega os seres e vidas abençoando a união
e as famílias nascidas do amor, para com esse mesmo amor e, por ele cumprir sua
missão de vida, vindo a alimentar e nutrir outra família reunida no lar, á
volta da mesa, para mais uma refeição em ato de amor.
- Mariza C. de C. Cezar
Comentários