enviado por Clara Sznifer
Início da Trajetória do músico:
Nascido de uma imigrante chamada Raquel Pick
que levava uma vida restrita. Proveniente da Polônia, fazia parte do grupo de
“polacas" (depreciativo de polonesa) que abandonou o país de origem, recrutada
entre várias “escravas brancas” de pobres cidades do leste europeu). Desembarcaram
com a promessa de casamento e até mesmo com noivos indicados. Diante da
mentira, não lhes restava senão a prostituição (sem família, sem conhecer a
língua e num país desconhecido)
Sofreram total discriminação inclusive da
coletividade judaica, embora sempre quisessem manter as tradições para não
perderem os vínculos com o seu povo.
Criaram uma organização própria para que
pudessem frequentar e ter seus direitos garantidos,
sem que fossem discriminadas, inclusive uma sinagoga e cemitérios: Inhauma e
Cubatão.
Raquel administrava o bordel, no próprio
sobrado em que morava, sob a fachada de uma pensão.
Preservava o filho deste ambiente, mantendo -
o sempre em casa, sem parentes e com poucos amigos.
Carreira Artística
Sem
ter muitos amigos e com restrições para brincar na rua, costumava ouvir um
vizinho francês cego tocar um violino.
E
esse foi o seu primeiro instrumento. Ganhou-o da mãe aos 12 anos, mas, por não
se adaptar ao arco do instrumento, passou a usar grampos de cabelo para tocar
as cordas. Depois de várias cordas arrebentadas, uma amiga da família disse; "...
o que esse menino quer é tocar bandolim..". Dias depois, Jacob ganhou um
bandolim, comprado na Guitarra de Prata. Era um modelo "cuia", estilo
napolitano, e que segundo o próprio Jacob: "... aquilo me arrebentou os
dedos todos, mas eu comecei...".
Não
teve professor, sempre foi autodidata. Tentava repetir no bandolim trechos de
melodias cantaroladas por sua mãe ou por pessoas que passavam na rua. Aos 13
anos, da janela de sua casa, escutou o primeiro choro, É DO QUE HÁ, composto e
gravado por Luiz Americano. Era tocado no prédio em frente, onde morava uma
diretora da gravadora RCA. "Nunca mais esqueci a impressão que me causou",
afirmaria Jacob, anos mais tarde.
Raramente
saia à rua. Seu negócio era ir à escola e tocar o bandolim. Frequentava, após a
volta das aulas, a loja de instrumentos musicais Casa Silva, na rua do Senado,
n° 17, onde ficava palhetando os bandolins.
Um
dia, um senhor, que tinha ido levar o violão para consertar, ouviu Jacob tocar
e se interessou. Deu-lhe um cartão para que se apresentasse na Radio Phillips.
Quando leu o cartão, Jacob ficou surpreso. O convite fora feito pelo famoso
clarinetista Luiz Americano, compositor e intérprete do primeiro choro que
tinha ouvido. Jacob chegou a ir com um amigo violonista a porta da emissora,
mas, talvez por não se considerar ainda preparado, desistiu e rasgou o cartão.
Desta
vez, na mesma Casa Silva, um conhecido intérprete de guitarra portuguesa,
Antonio Rodrigues ouviu Jacob tocando violão. Provavelmente, os baixos
acentuados da levada "chorona" do jovem violonista impressionaram o
fadista, que o convidou para acompanhá-lo ao violão em suas apresentações.
1-Jacob
Instrumentista:
Ao tomar a decisão que o bandolim "era o
seu negócio" e nele se concentrar, Jacob, nesse momento, iniciava a sua
carreira radiofônica. Segundo ele, sem pretensões profissionais, se inscreveu e
venceu, em 27.05.34, o Programa dos Novos, na Rádio GUANABARA, organizado pelo
Jornal O Radical, derrotando 28 concorrentes e recebendo nota máxima de um júri
composto, dentre outros, por Orestes Barbosa, Francisco Alves e Benedito
Lacerda.
2-Jacob,
Serventuário da Justiça:
Depois de prestar concurso por orientação de Donga,
para sustentar a família, o que lhe propiciou maior liberdade para compor e
tocar o choro"... sem depender do interesse das gravadoras"... como
gostava de afirmar. Para isto deve que interromper a carreira do rádio.
3-Jacob,
inventor de instrumentos:
Incansável farejador de sonoridades, que
lançou a violinha, uma redução física do violão tenor, o vibraflex, um violão
tenor ligado a um órgão Hammond; o barítono de cordas, uma espécie e violão
tenor grave. E mais tarde encomendou a um luthier, seu amigo, um bandolim ao
estilo da guitarra portuguesa, que se tornou mais tarde a mais utilizada pelos
chorões. Citando aqui apenas alguns deles.
4-Jacob
pesquisador:
Estudioso da história do choro, um dos
primeiros a entender esse gênero como patrimônio do povo brasileiro, a ser
divulgado e preservado. Em 1939, começou a recolher discos de cera e
partituras, editadas ou em manuscritos, para formar um arquivo pessoal,
reunindo a obra de Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Candido Trombone,
Anacleto Medeiros, dentre outros.
Tal
era a sua preocupação por preservar tudo que se relacionasse com a música
brasileira, particularmente, o Choro, que Jacob, que era fotógrafo premiado e
dominava a fundo a técnica de revelação fotográfica, chegou a microfilmar
milhares de partituras para ganhar espaço e qualidade de preservação.
Com
milhares de peças, incluindo discos, partituras, fotos e matérias jornalísticas
ficou conhecido como “O ARQUIVO DO JACOB”, e foi incorporado em 1974 ao acervo
do MUSEU DA IMAGEM E DO SOM/RJ.
5-
Jacob compositor, o mais refinado de todos eles. Os primeiros registros de suas
composições se situam por volta de 1936, revelados ao público por Elizeth
Cardoso, num show no Teatro João Caetano em 1968, que reuniu, além do Jacob e
da Elizeth, o Zimbo Trio e o Época de Ouro. Suas composições transitavam entre
as que eram fiéis à estrutura tradicional do choro, e aquelas em que fazia
incursões inovadoras. Seu choro de estreia “Treme- Treme” se destacava pelo
ritmo marcante e alegre (grande sucesso de vendas)
texto de Clara Sznifer
Comentários