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NATAL, OUTRO NATAL DO RANZINZA - por Roberto Prado Barbosa Junior

enviado por Roberto Prado Barbosa Junior

NATAL, OUTRO NATAL DO RANZINZA


Me enganei, me iludi, tentei cobrir o sol com peneira, ousei ter esperanças, que furada! Nada muda nesse mundo imutável, duro de pedra. As coisas são como são e tolo é aquele (eu, por exemplo) que pensa que alguma coisa pode mudar...
Bestamente achei que esse ano (crendo talvez no fim do mundo? Pode ser!) o Natal, aquela data para sempre e sempre amaldiçoada, seria diferente.
Mas não, ela (a data) provou-se ser igual às outras passadas (e pelo que vejo futuras) será igual.
Ontem, domingo, no Café, um grupo musical cantava músicas Natalinas e eu lá me embevecia ouvindo-as acompanhando algumas cantando outras assoviando.
Feliz com aquilo, sorrindo, sorvia meu cafezinho.
Até que lá pelas tantas cantaram “Boas Festas” de Assis Valente, quando chegou a vez do:

“Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem”


Veio-me uma pontada tão aguda no coração que quase verti lágrimas. Respirei fundo, mantive a pose, a dignidade, mas com que inveja via as famílias abraçadas cantando todos juntos e desafinados aquela música!
Deus! Anos e anos de vida, mais de meio século e nunca tive um Natal que se dignasse a ser lembrado com alguma alegria, júbilo, contentamento.
Em retrospectiva meus natais são dignos de Charles Dickens. Só faltam a fome e a neve.
Nunca fui feliz nessa data, nunca ninguém ao meu lado. Sempre só, sempre me remoendo de raiva, sempre frustrado.
Se arranjasse um “bico” nessa data juro que trabalharia com prazer, faria o turno da noite.
Após o Café fui a uma Igreja ouvir mais cânticos, me sentia como um miserável diante de uma vitrine de doces ou de brinquedos vendo o que jamais teria...
Me pergunto se em minha infância meus pais enviaram mesmo minhas inocentes cartinhas para o “bom velhinho” ou se simplesmente as jogaram no lixo!
Logo esse ano se acaba e o outro começa igualzinho, igualzinho a esse que se vai. Meu fim se aproxima cada dia mais e nada de chegar a ter um feliz de Natal. Depois me perguntam por que olho atravessado para papais noeis e tenho vontade homicida de chutar pedintes, queimar árvores, enfeites e tudo mais.
Vou me entupir de programas repetidos TV,  evitarei as retrospectivas, não atender telefone (como se alguém fosse realmente ligar), comer alguma bobagem aquecida no micro-ondas e dormir cedo enfiando a cabeça sob os travesseiros para não ouvir os fogos.
Antes de morrer totalmente sozinho, amargurado e com um cachorro magro e famélico amarrado no quintal, ainda mudo meu nome para Scrooge!
- Que venham meus fantasmas!
Juro que o primeiro que me desejar um “Feliz Natal” eu mato.




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