LANÇAMENTO
ANTOLOGIA GRÊMIO HAICAI SABIÁ - org. Benedita Azevedo
Ed. Costelas Felinas
II Antologia
ENCONTROS VIRTUAIS
“Haicai na Rede”
Prefácio de Teruko
Kuwa totte haikai-koko wo
hirakubeshi (Takahama Kyoshi –
1874~1959)
Lavrar a
terra
E também
plantar
Um país de
haicai.
Nenpuku Sato (1898-1979), considerado um dos
melhores haicaístas do século pela crítica especializada no Japão, recebeu o
haicai acima, de seu mestre Takahama Kyoshi, um dos principais mestres
japoneses do haicai contemporâneo, com a missão de manter viva a tradição do
haicai entre os emigrantes japoneses aqui aportados no início do século
passado.
Sato
trabalhou na Colônia Aliança, em Mirandópolis, cidade a noroeste do estado de
São Paulo, por longos anos plantando arroz, milho e algodão, sem obter muito
sucesso. Contudo, aproveitando as épocas secas e o descanso da terra após a
colheita, percorria as cidades e vilarejos para se reunir com os conterrâneos e
dar continuidade à divulgação e ensino do haicai conforme promessa feita a seu
mestre.
Sem
conseguir garantir o sustento da família ao longo dos anos, mudou seu ramo de
atividade, passando a lidar com criação de gado, o que assegurou certa
tranquilidade financeira para a família.
Sato
pode, finalmente, dedicar-se exclusiva-mente ao haicai. Como mestre itinerante,
percorreu várias cidades do estado de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul.
Responsável
pela coluna de haicai em jornais da colônia e publicação da revista Kokage, especializada em crítica e
divulgação do haicai, e ainda, mantendo reuniões presenciais e concursos,
Nenpuku Sato se tornou um grande mestre respeitado por seus mais de seis mil
seguidores. Deixou apenas duas antologias, publicadas no Japão, mas seu raio de
influência ainda se faz sentir mesmo após 37 anos de seu falecimento.
De sua
orientação direta, surgiu outro grande mestre do haicai no Brasil, Hidekazu
Masuda (1911-2008), carinhosamente chamado de mestre Goga por seus discípulos
e admiradores. Sob sua influência, formou-se em 1987, o Grêmio Haicai Ipê, na
cidade de São Paulo, com o objetivo de estudar e praticar o haicai em língua
portuguesa, até então composto apenas em língua japonesa.
Seguindo
seu modelo, outros grêmios foram sendo inaugurados a partir de 1995, entre os
quais, o Grêmio Haicai Sabiá, fundado em junho de 2006, que ora comemora
seus dez anos de existência sob a orientação firme da poeta Benedita Azevedo.
Não
satisfeita com o trabalho à frente de um grêmio, e já participando de inúmeras
associações e academias, e mais ainda, coordenando projetos culturais em
escolas, Benedita, seguindo o exemplo de Nenpuku Sato que dedicou a vida à
causa poética, reúne os amigos para inaugurar e assumir a coordenação de mais
um grêmio, O
Águas de Março, na cidade do Rio de
Janeiro, em fevereiro de 2008.
Incansável,
irrequieta, ativa, alegre, entusiasta, disciplinada, corajosa, otimista, muitos
são os adjetivos que lhe cabem. Mas, a palavra que mais a define talvez seja
‘antenada’. A despeito de suas múltiplas funções e obrigações, Benedita está
sempre atenta ao que acontece ao redor.
Nesta
era digital, onde tudo se resolve num simples acionar de botões, percorrer
longas distâncias em meio ao trânsito caótico das cidades para participar de
reuniões presenciais acabam sendo um grande desafio. Ao perceber essa dificuldade, com o firme
propósito de manter os haijin unidos
em torno do Sabiá, a antenada Benedita inaugura dia 25 de junho de 2014, o Encontros Virtuais – “ Haicai na Rede”, que a princípio foi apresentado com a
denominação: Grêmio Haicai Sabiá – “Oficinas Virtuais”.
Mantendo
o caráter de composição coletiva, como na origem, mas apresentados agora sob
nova dinâmica, temos aqui o resultado de mais um ano de atividades do Grêmio
Haicai Sabiá: antologia de haicais compostos em encontros virtuais, acrescida
de nova modalidade poética, o tanka.
Flores,
frutas, festas, pássaros, insetos, a lua, o vento — detalhes de nossa rica
natureza formam belas imagens em rápidas pinceladas. Alguns poemas se
apresentam mais alinhados aos ensinamentos dos mestres; outros mais livres ou
abrasileirados. Mas, em todos, a
simplicidade das descrições quase tolas, capazes de tocar o coração das
pessoas.
Se
Nenpuku Sato era “aquele que pensa com a barriga” (segundo o folclore japonês,
a barriga é a sede do pensamento) e Bashô, o poeta bananeira, em alusão à
planta que havia em sua cabana, Benedita deve ser Emi (恵美), bendita beleza de seu grande coração.
Aos
autores, congratulações pela riqueza de suas produções. À organizadora, meus
aplausos e minha gratidão sincera pela dedicação e entusiasmo na difusão,
prática e ensino do haicai.
Confreira
Benedita Emi, sinta-se ‘batizada’ por esta que você, carinhosamente, chama de
‘minha mestra’!
São Paulo, primavera de 2016.
Teruko Oda
Comentários