Pular para o conteúdo principal

Solilóquio Roberto de Queiroz

enviado por Roberto de Queiroz

Solilóquio
 
Roberto de Queiroz*
 
 
Não sou realista nem sou normal. Ser realista não significa ser normal. Ser realista (de realismo + -ista) é prender-se fielmente ao que é real, verdadeiro. Ser normal (do latim normale) é seguir determinada norma, natural ou habitual. Não sou futurista. O futurismo de Marinetti, conquanto não fosse normal, voltava-se exclusivamente para o futuro, era antagônico à moral e primava pela exaltação à guerra. Havia nele algo utópico e paradoxal.
Não sou utopista. Não concebo nem defendo utopias. Não sou dadaísta. O dadaísmo de Tzara não possuía cérebro: não havia nele passado nem futuro, havia apenas a guerra, o caos, o nada. Não sou cubista. O cubismo era demasiado irracional, desintegrado da realidade, instantâneo e anti-intelectualista, embora fosse carregado de certa dose de humor. Não sou adepto do surrealismo. Só os loucos rejeitam as concepções lógicas do cérebro e se apegam somente ao inconsciente.
Mas, já dizia doutora Nise da Silveira, “os normais são burros”. Assim, há espaço suficiente para todos (para os sãos e para os loucos). Inclusive, para os que leem e não entendem (analfabetos funcionais) e os que veem e não enxergam (cegos funcionais). E, não obstante eu seja não realista, crítico do futurismo, dadaísmo, cubismo e surrealismo, vejo nessas vanguardas artístico-europeias, principalmente nas duas últimas, uma grande evolução criadora. Afinal, foram tais manifestações artísticas que revolucionaram o cenário cultural europeu e mundial do século 20. E, apenas porque não sou realista nem sou normal, reconheço o valor de toda e qualquer arte.
Se os normais são burros ou não, não estou certo disso, mas eles, obviamente, não cheiram nem fedem.
 
* Poeta, prosador, professor de Português e especialista em Letras. Autor de “Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro Rápido, 2013, entre outros. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Varal do Brasil - Salão Internacional do Livro

Os preparativos para o 29º Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra já começaram. Estaremos presentes com nosso estande pela quarta vez levando autores de Língua Portuguesa para divulgar cada vez mais nossa literatura. As inscrições para todo autor que desejar participar estão abertas! Também seguimos com as inscrições para nossa quinta antologia: Varal Antológico 5  saiba mais lendo as informações 

FESTIVAL TRAÇO: Música e Desenhos ao vivo

12 bandas independentes de Belo Horizonte se reúnem a 16 artistas gráficos para dar origem ao festival Traço – música e desenhos ao vivo . A iniciativa  é um trabalho experimental, em que os grupos tocam enquanto os desenhistas criam ilustrações ao vivo, projetadas no telão da casa que recebe os shows, o Stonehenge. Composto por quatro edições, com três apresentações por noite, o festival estreia no dia 8 de agosto, às 21h, e tem encerramento marcado para junho do ano que vem. A curadoria musical abrange estilos, formações e propostas diversas. Rock, dub, ska, afrobeat, música instrumental, eletrônica, punk, grunge e “stoner barroco” são ritmos apresentados por bandas que variam de trios a septetos. Os objetivos vão desde apresentar simplicidade por meio de um som direto ou refletir sobre a sociedade contemporânea até “detonar uma experiência sonora alimentada pela cultura negra e urbana, que faça mexer músculos e cérebros”. Provocar a imaginação é também o intuito da curad

Trajes Poéticos - RIMA EMPARELHADA

rimas que ocorrem seguidamente em pares. ********* os poemas publicados aqui participaram do concurso Trajes Poéticos realizado pelo Clube de Poetas do Litoral - salvo os poemas dos autores cepelistas que foram os julgadores dos poemas.