Quem passava ao lado da sala onde havia tanta cantoria e história não se continha em espiar. Vez ou outra se viam olhinhos curiosos entre as frestas das janelas. Os que estavam na sala também compartilhavam da mesma sensação, afinal as inúmeras histórias de Frei Chico e Lira Marques são dignas de muito interesse e curiosidade por parte de quem as ouve.
O minicurso, ou nas palavras
de Frei Chico, a oficina, foi realizada pelo projeto Saberes Plurais, do Polo Jequitinhonha da UFMG e aconteceu nos dias 25, 26 e 27 de outubro. A dupla apresentou de uma maneira muito leve a pesquisa que teve início há 40 anos e resultou em um Dicionário da Religiosidade Popular. Durante os três dias os ministrantes e organizadores acolheram os participantes com uma decoração típica do Vale: tecidos floridos e cerâmicas de Lira, além dos vários livros e filmes espalhados pelo palco, os guardiãs de entrevistas, “causos”, rezas e cantos.
Frei Francisco Van Der Poel é nascido na Holanda, mas veio para o Brasil em 1967, atuando na cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, onde se impressionou com a rica cultura popular e com as variadas formas de religiosidade do povo. Com um palhaço pendurado no cordão de seu hábito franciscano (segundo ele, seu lado anarquista) e o violão de fitas coloridas na mão, cativava a todos com sua simpatia e alegria. Citou inúmeras vezes Paulo Freire e sua ideia de valorizar aquilo que o povo já tem, sendo um dos princípios de sua pesquisa no Brasil. Defendeu também que a verdade não é só aquilo que cabe na teoria que lemos, portanto, seu estudo é sobre as verdades do povo e a possibilidade de criar uma coleção delas em forma de verbetes.
Maria Lira Marques, natural de Araçuaí, com as suas tranças inconfundíveis e seus vestidos floridos, contou aos participantes o início de sua trajetória como cantora e artesã, detalhou a parceria com Frei Chico e cantou as músicas que marcaram sua história na região, desde a mais saudosista até a mais animada.
A riquíssima pesquisa realizada pela dupla é humildemente caracterizada por eles como o “começo do princípio do início de alguma coisa”, no entanto conta com uma grande coleção de verbetes explicados como quem “morou no assunto” e se dedicou muito a fim de publicar o primeiro dicionário da religiosidade popular brasileira, uma importante obra de referência sobre o assunto.
O projeto Saberes Plurais é uma iniciativa da Diretoria de Governança Informacional (DGI), vinculada à Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, em parceria com o Polo Jequitinhonha e a Diretoria de Ação Cultural ( DAC) e tem por objetivo ampliar os espaços de produção, difusão e compartilhamento de dispositivos multimodais dedicados ao imaginário, à memória e às oralidades populares com o propósito de ampliar a memória social brasileira, a partir das histórias de vida e da perspectiva dos cidadãos comuns.
postagem enviada por cláudio bento
Boletim Eletrônico #120
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