livro BARDOENCARCERADO - de W. Mota - por Ed. Costelas Felinas - http://artesanallivros.blogspot.com.br/
Tem dia que:
As palavras fazem greve
A inspiração não acorda
A mão fica boba
A caneta emperra
A preguiça impera
A mente não cria
A poesia não sai
A musa...
Cadê a musa?
Foi dar uma....
Prefácio
Falar de W. Mota
e de sua obra é para mim uma satisfação sem precedentes, visto que o conheci de
uma maneira distinta, dentro da prisão - ele, por obra do destino peralta,
amargurando a ausência da tão valiosa liberdade, e eu, por obra do acaso,
tornando-me um agente disciplinador, sequioso por lançar a cultura, as artes e
a literatura dentro daquelas velhas grades, tentando fazer que os papéis (as
leis muitas vezes olvidadas) mandam fazer, auxiliar na reeducação, preparar o
cidadão preso para conviver novamente em sociedade, literalmente, dar as mãos e
doar-se, fazendo o máximo que se pode.
Infelizmente, as funções nem sempre
são cumpridas... seja a função do agente de segurança penitenciária, que
deveria ser ressocializar em primeiro lugar, seja a do preso, de cumprir sua
pena, aprender coisas novas e voltar melhor à sociedade; seja do Governo, de
dar condições salutares de cumprirem suas missões: aos funcionários e em
especial aos presos; e seja da sociedade, que, por hipócrita e envolta ao mar
do egocentrismo, aponta, grita, julga, bane e se deixar, extermina seus
próprios filhos, fazendo de conta que o seu próprio problema social, de caráter
filosófico, sociológico e mesmo espiritual não existe, ou que não tem culpa
daquilo, quando, na verdade, a criminalidade, as prisões e tudo mais são frutos
desta sociedade consumista, amarga e cega, que caminha no escuro pensa deter a
luz.
Com o livro “Bardo Encarcerado”,
Mota vem nos trazer não somente o grito pela liberdade, que logicamente, não
poderia faltar... o autor traz outras mensagens sublimes, lindas, necessárias,
sensuais, repletas de amor, de esperança, de sensibilidade, reflexões sociais,
filosóficas, espiritualistas, existenciais.
Mota fala do amor à sua amada, com
muita ternura e paixão... demonstra toda a sensualidade em seus versos, como
devem ser os verdadeiros versos apaixonados... não deixa de escrever um poema
às mães e nos brinda com um poema repleto de sentimentos a uma gata e sua
prole, que por tempos foram seus companheiros nos dias solitários da prisão.
Ele fala da rotina – a tão
entediante rotina existente num estabelecimento penal. Cita o dia de visita,
tão esperado e preparado com todo o amor do mundo, que deveria ser imitado por
todos os cidadãos livres, que ao chegarem aos seus lares, deveriam se abraçar, beijar
e dizer o quanto amam seus familiares, como acontece nestes dias de visita
dentro das prisões.
W. Mota fala da carta, que atravessa
o mundo, deste mesmo mundo que no momento, ele não pode desfrutar... analisa o
tempo perdido, com sede de, daqui para frente, não perder nem um só segundo.
Fala da amizade, que dentro do cárcere se agiganta de tal forma; reflete sobre
a distância e o amor.. ah! Sempre o amor!!...
Em alguns dos seus poemas, o poeta
fala do Natal, do Cristo redivivo, do Deus verdadeiro, que cada um sente a sua
maneira, independente da religião que o queira possuí-lo por completo, da
importância de lermos a Bíblia, de tão necessária e difícil evolução
espiritual, que evitaria cárceres, sonhos amputados, hipocrisias, crimes, falta
de liberdade, acumulo de anseios, frustrações, anos sem poder avistar a lua,
horas e mais horas ouvindo um trem que passa “acorrentado” aos trilhos, mas
vislumbrando a liberdade das cidades e das matas.
Mota também fala de
si mesmo, definindo-se... e nos traz formas clássicas em seus poemas, com seus
sonetos e glosas, fazendo-me sentir aqui, importante, numa alegria toda
especial de ter contribuído mesmo que com pequeninos detalhes, para a sua
formação como poeta clássico.
O autor também traz acrósticos e
para grande surpresa, poemas visuais, que nos emocionaram pelas formas e
conteúdo nelas contidas. E, como não poderia faltar, faz suas homenagens ao seu
poeta do coração, Castro Alves, o poeta dos escravos, dos injustiçados, o
grande gênio da Terceira Geração da Poesia Romântica, que permanece vivo em sua
obra e em seu clamor pela liberdade, em todos os sentidos.
W. Mota, meus parabéns pelo livro,
pela inspiração, pela luta diária para sobreviver e pela sua batalha ainda mais
árdua, a qual todos deveríamos segui-lo, a cada instante pela evolução
espiritual, tão complexa, tão necessária, tão dolorosa às vezes, mas tão
salutar, ao término da jornada terrestre.., que o Deus do seu coração o ilumine
sempre, e que de suas mãos nunca mais parem de jorrar versos, com abundancia,
repletos de liberdade, de paz e de luz.
Taubaté, novembro de 2016.
LUIZ ANTONIO CARDOSO
- Idealizador e Supervisor da ALACRE Academia de Letras, Artes e
Cultura “Renovação da Esperança”
- Idealizador e Supervisor Geral do Movimento
União Cultural
- Presidente 2014/2018 da Seção de Taubaté da UBT –
União
Brasileira de Trovadores
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