capa: Neli Maria Vieira |
A mordacidade
mostra as garras e desaforadamente cospe versos sobre os dogmas exibindo um
desdenhoso sorriso sacana que se sobrepõe a cada página, impregnando o ar de
uma inquietante acidez irônica. E enquanto cutuca a ferida expõe a lucidez
cortante de um olhar de esguelha e
avesso apontando evidências ocultas e as dissecando cruamente, à frente de
todos, diante da pasmaceira contínua.
(Vieira Vivo)
Não
me lembro de quem escreveu: “não poderíamos ver corretamente as coisas; senão
olhando-as às avessas.”
É
com esse olhar enviesado, que leio os poemas de Aristides Theodoro. Neles
percebo um grande desencanto pela humanidade.
Humanidade: húmus, “lembra-te que do
pó vieste e ao pó hás de retornar”.
Assim, canalhas e heróis, santos e
demônios, poetas e decadentes, batistas e neros, russos, cubanos, mauaenses,
judeus, portugueses e franceses, enfim, o uni – verso de leituras do autor
aflora nesses versos duros e afiados, evidenciando as pegadas do crítico
literário mordaz e impiedoso, que não poupa deus e todo mundo.
Leiam e confiram. (Judith Vilas Boas Ribeiro)
Ed. Costelas Felinas - http://artesanallivros.blogspot.com.br/
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O GRITO APAVORANTE DO BLUES
“Ora, o blues, o blues é uma doença do
coração preocupado”
Robert Johnson e Son House
O negro levou consigo
das savanas da África
engasgado na garganta
um grito seco, sofrido,
melodioso
quase como se fosse um
lamento,
que espantou a puritana
América
e mais tarde ficou conhecido
como Blues, música negra,
constituída de resmungos,
desabafos.
Uma música bárbara, rude,
que acordou o mundo
para um ritmo novo, assustador
e depois, com o correr dos
tempos
e melhor exame em suas notas,
em seus apelos,
o Blues conquistou os
corações recalcitrantes,
que o diga Robert Johnson, Leroy
Carr,
Bessie Smith, a chamada
“Imperatriz do Blues”
e as “negralhonas”
simpáticas, “catedralescas”
Dinah Washington e Mahalia
Jackson,
que tornaram essa música
primitiva
conhecida em todos os
quadrantes.
Já disse alguém:
“O Blues é uma doença do coração”.
Sim, uma doença que
incendeia,
enlouquece e ao mesmo tempo
alivia as mazelas da alma,
as angústias e como um
lenitivo
preenche os momentos da vida.
O Blues curava o banzo
de negros oprimidos,
escravizados,
que trabalhavam noite e dia
nas safras do “algodão
branco”,
feito bestas de carga
em proveito do senhor.
Toca Filosófica, 04/04/2008
Comentários
"Em versos o autor discorre sobre José Alcides Pinto, Tolstoi, blues e cita Nietzche, Adélia ´prado, Zumbi dos Palmares"