A coleção foi toda escrita por moradores de rua, que aprenderam a técnica da poesia Haicai, através do projeto Lendo, Refletindo e Reproduzindo de Mahelen Madureira.
Os encontros ocorriam na Associação Prato de Sopa Monsenhor Moreira em Santos.
Ao todo foram 07 títulos, sendo que CANÇÃO DO ANDARILHO ganhou o PRÊMIO BUNKIO DE LITERATURA 2014 - as ilustrações das capas também foram desenhadas por moradores de rua, salvo a capa verde com mãos dadas que foi criada por Iracema Ananias..
Os livros tiverem prefácio de Teruko Oda, Regina Alonso, Sonia Adarias
PREFÁCIO DO LIVRO OÁSIS
Para o viajante no deserto a grande benção é o oásis. A vida é dura contra areia e calor, mas se mantém porque o oásis a retempera. Retempera, mas não a detém junto a si, porque por vocação será sempre passagem em rota de viajante. E este sabe, ou não sabe, aonde quer chegar, mas com certeza no oásis não pode morar.
Para o viajante no deserto a grande benção é o oásis. A vida é dura contra areia e calor, mas se mantém porque o oásis a retempera. Retempera, mas não a detém junto a si, porque por vocação será sempre passagem em rota de viajante. E este sabe, ou não sabe, aonde quer chegar, mas com certeza no oásis não pode morar.
Milagre vindo da água que
assoma à superfície e forma pequena lagoa, o oásis tem pouco espaço, tem poucos
recursos, pode albergar a poucos que obrigatoriamente têm que vir e ir, em
ciclo contínuo.
Estranho destino ser tão
essencial em tão curta estadia. Ser vital por momentos. Mas não quaisquer
momentos. Nos momentos do cansaço extremo e do refazimento, ao oásis o
viajante entrega o fardo desse cansaço e aguarda novas forças para deixá-lo e
retomar viagem. Precisa colher coragem para seguir sua rota de areia e
calor.
Ao matar a sede, o viajante
pode olhar em redor. Ao satisfazer o básico, pode despertar para o belo, pode
abrir-se para a colheita inesperada. A colheita do sensível que preenche a
Alma. Sem sede e à sombra, o viajante volta-se para si mesmo e percebe-se como
pessoa. Dono de pensamentos que retornam, de um coração que pode amar, busca no
instinto e nas estrelas uma nova rota e seu destino.
O oásis não se preocupa com
os medos daquele que por ele passa, e com palavras de silêncio lhe murmura:
coragem, para chegar a seu destino, ninguém pode furtar-se do caminho. Por isso
não pare, nem no espaço e nem no tempo. Muito menos no tempo remoendo o que
passou, imobilizado entre minutos que não deixa seguir adiante. Viajante,
liberte-se do destino de viver um tempo que já não conta e sofrer dores pelo
que não deixa cicatrizar.
O oásis sabe que tudo é
passageiro, os viajantes, os frutos e até mesmo a água de sua lagoa que se
entrega sem parar ao vento e precisa ser reposta pelo coração da Terra.
E nessa incessante
mutabilidade, só duas coisas permanecem: a presença acolhedora do oásis e a
gratidão de cada viajante.
Deus abençoe o Prato
de Sopa por ser um oásis...
Deus abençoe a cada
morador de rua
em sua viagem...
Deus abençoe os
autores pela colheita inesperada de seus haicais...
prefácio do livro OÁSIS escrito por Roberto da Graça
Lopes
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