DOIS MUNDOS
DOIS repete a receita de DOIS MUNDOS, o livro que inicia esta história: um
drama sem dramalhão, mesmo tendo como personagem central (que o autor não
centraliza em absoluto), um jovem que enfrenta um câncer. Trata-se de um
trabalho meio autobiográfico, meio fictício, em um cenário de vida real - o
bairro Vale das Pedrinhas, de Guapimirim - RJ, registrado nestas páginas como
Vale das Pedras. Gerson teve o cuidado de compor uma história leve sobre um
assunto nem tanto. Ele mostra em seu livro, a imagem de um jovem que apesar de
seu drama, não tem pena de si. Ao contrário, se permite viver sem perguntar até
quando, mas de forma que, se depender dele próprio, por muitos anos.
A história é
curta, como exigem os apressados dias atuais, especialmente por se tratar de um
livro para jovens. Não proibido para pessoas maduras, que certamente o
apreciarão, com eu, mas especialmente para jovens. Leve, ágil, direto ao ponto,
mas com aquela sutileza que faz fluir a leitura e aguça, sem jamais intimar, a
curiosidade de quem lê. E ao passo que lê, o leitor descobre ou confirma,
quando já sabe, que a VIDA É BELA. Tão bela quanto mostra o filme do título em
destaque. Se soubermos viver, mais do que bela, a vida é bala, caramelo, jujuba
e outras doces porcarias.
É invejável
como Gerson comove sem tentar fazê-lo. Sem apelar para chavões ou lugares
comuns, arroubos, mensagens de autoajuda, clamores e máximas que transformam
pessoas em guerreiras, com figuras de linguagem desgastadas. Mais apropriadas para coretos, em
campanhas eleitorais, do que propriamente para o dia a dia de um ser humano com
seus dramas; conflitos; incertezas. Augusto não é um enfermo chorão, revoltado
com a vida, cheio de máximas corrosivas e humor cáustico visando incomodar o
mundo para se vingar de seus dramas, como se o próprio mundo não tivesse os
seus. Citar trechos de um romance curto e prazeroso seria tentar, a esmo,
concorrer com o autor. Logo, um crime imperfeito. - por Demétrio
Sena, Magé - RJ.
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