Como não gostar de pronto de um livro
intitulado... Não faz mal, é setembro, início de primavera? Só essa frase já é
um poema e nos transporta a um reino encantado de flores, melancolia, pássaros,
sementes, esperança de vida. Detalhe: nasci no dia 23 de setembro, dia do
início da primavera, um bom dia para ter nascido poeta.
Após
essa surpresa que me reservou Aristides Theodoro, quase como um presente, leio
a dedicatória “Para Neli Maria Vieira”, a poeta e pintora; as epígrafes de
Jurema Barreto de Souza (...“ainda há pássaros em setembro”) e de Alexandre
Bonafim (...“a primavera sempre nascia/antes de setembro) e vou entrando no
clima dessa estação de renovo.
O
livro abre com o romântico poema que lhe dá o belo título. Naquele início de
primavera, o poeta deixou-se contagiar pelo enigma de sua musa, uma Mona Lisa
que o perturba e pacifica com sua formosura.
O
“poeta rude” se dá conta do domínio que a mulher tem sobre o homem. A mulher é
capaz de levá-lo “as alturas do céu/ou às funduras infernais.”
Um
tema metapoético: o poeta lê outros poetas. Aqui ele cita seu estado após a
leitura de Anderson Braga Horta (“Como é bom ler-se um bom livro”). Metapoético
também aquele “O Poeta Espreita/ O Poema fugidio”. O poeta armando o alçapão de
apanhar palavras que saltitam como pássaros. “Poeminha paradoxal” e “O que é
ser poeta?” questionam também essa vocação estranha de poeta, “gênio lúcido/às
portas da senilidade.”
A
senilidade, a velhice, o autoconhecimento se fazem presentes no poema “Espelho
Delator”, o “desgraçado espelho”, que diz sempre a verdade, que mostra os
estragos do tempo.
O
poeta preocupa-se também com a natureza, como quando fala sobre o rio São
Francisco, o velho Chico. O tom me pareceu algo didático demais, mas revela o
seu interesse em pesquisa e em alertar as pessoas para causas ecológicas. O
mesmo acontece com o poema “Tamanduateí – um rio que foi”, mais livre, com
belas metáforas como: “o resfolegar cansado do jaguar” e “o silvado das
serpentes”.
A
indignação diante dos problemas brasileiros: miséria, roubos, corrupções,
mensalões estão presentes em poemas como “Um herói moderno” que às vezes enveredam
para a linguagem da prosa.
“O
Fantasma de Deus” gostaria de trazer uma negação a Deus ou “deus” em letras
minúsculas, à religião, mas vale como um desabafo contra a truculência dos homens
e as intrincadas injunções políticas.
Assim
caminhamos pelas páginas deste livro, entre suspiros, dramas, comédias,
injustiças e desalentos. Não faz mal, logo mais será novamente setembro, início
de primavera. - por Raquel Naveira
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