O CAÇADOR DE BORBOLETAS
Cláudio Bento não escreve. Ele sonha palavras e vai arrumando-as, com jeito menino, como se plantasse todos os tipos de sementes, num jardim da realidade. Fico pensando como pode um menino de beira de rio, onde seus sonhos descem pelas ondas mansas das águas turvas do Jequitinhonha, com canoas iluminadas, desenhar nas areias claras, essa sua poesia, que parece nascer dos céus! Fico imaginando o mundo que esse menino carrega! Os conflitos, as dores, os amores, o luar do sertão mineiro, as danças debaixo das bandeirolas, as pescarias, os traques, o pé de moleque, as mangas tiradas com as mãos e ali mesmo consumidas, como se consome o feijão, o arroz e a farinha! O menino que bebia leite nas tetas das vacas e caminhava descalço sobre os bengos.
O caçador de borboletas e sonhos reais. O curioso que perguntava de tudo pra Vó. O entusiasmado pela poesia do sol e pelo banho pelado no rio! Sabe gente, esse menino, apaixonado, defensor de gente miúda, artesão das palavras e amigo sincero. Sua simplicidade é a cara da sua poesia rica, humana e sofisticada. Um homem de fé e família, que valoriza o encanto da sua gente. O barro que se transforma, o olhar de quem sabe de tudo, mas não se satisfaz e sai sempre à procura. Um homem/menino que mergulha na vida de cabeça e sai lá na frente com o peito aberto. Assim penso Cláudio Bento. Poeta de brilho e sabedoria. Que escreve como quem ama viver e tira da dor o néctar dos deuses, fazendo da sua aldeia uma imensidão do universo. Contra-poetando o maravilhoso FERNANDO BRANT, que também é bento, eu diria assim: COMO É GRANDE E CHEIA DE BRILHO, A VIDA
DO POVO QUE MORA NO VALE. Cláudio Bento é a resistência de quem sonha com as utopias, mas que as realiza todos os dias.
Paulinho Pedra Azul
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