"Um exercício de escrita
automática revela instantes". Essa é a única afirmação racional que se
pode fazer de um texto tão impulsivo e subjetivo como o que propomos trabalhar.
Não se trata de um produto do intelecto, de um objeto enquadrado nas normas
gramaticais e tampouco preocupado com tais regras; trata-se do despertar
anímico, um grito impulsivo de nossos instintos, uma marca do impacto entre o
universo sensitivo e o mundo dos sentidos. Um instantâneo da alma. Um resgate
aos momentos em que o desregramento era nossa maior liberdade, ainda que não
tivéssemos consciência dela. O retorno ao lúdico, ao natural, ao instintivo...
conduzido por palma e dedos desgovernados que cravam no papel letras, rabiscos,
sinais...signos e símbolos.
É mesmo um instante mágico.
Agora imagine quando essa magia
se manifesta dentro de uma sala de aula, com alunos do segundo ano médio,
durante cinco inesquecíveis minutos, que conseguem expor e registrar os
impulsos apaixonados de corações tão distintos e ávidos por manifestação.
Imaginou? Cinco minutos são trezentos segundos de liberdade que a escrita auto-mática
trouxe a esses jovens, são trezentos segundos em que eles foram instigados a
permitir que suas mãos, cansadas de tantos afazeres acadêmicos, deslizassem no
papel e formatassem naquela folha uma imagem que representasse, sem a intenção,
uma perene viagem para fora de todo e qualquer universo regrado. Trezentos
segundos para que cada um, naquela sala, pudesse derramar em sua carteira, sem
medo da censura moral ou linguística, seus medos, anseios, desejos, crenças,
sonhos, incômodos... Enfim, trezentos segundos sem máscaras. E aqueles que
optaram por continuar com as regras, tinham a liberdade de fazê-las. Nada é
imposto em uma escrita automática. Tudo se sente se experimenta, se permite.
Tudo transcende de dentro do indivíduo. É a prática da antropofagia modernista.
Meu papel aqui é o de alinhar no modelo costumeiro,
consumível, regrado, parte do universo poético (antes inimaginável para a
maioria) que eles nos permitiram ver, ler e apreciar. O texto individual de
cada escrita automática foi devolvido ao aluno, pois entendemos que cabe a cada
um a decisão de mostrar as particularidades de sua criação. Portanto, o que
veremos aqui, são películas que se projetaram em minha tela mental com base nos
roteiros surreais dos nossos estimados alunos.http://artesanallivros.blogspot.com.br/
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