PREFÁCIO
A vida precisa de ritmo... e um texto também. Acontecimentos intensos junto a outros não tão
excitantes fazem-nos navegar pelo
cotidiano... ao sabor das marés, o texto sopra palavras cortantes como o vento
frio e leves, silenciosas, parecendo a espuma a deslizar na areia..
A "Prosa Afiada"de Clara Sznifer
faz-se desse modo. O aspecto jornalístico dos textos, com particularidades de
notícias, não impede que sejamos tocados profundamente pela reconstrução da
memória afetiva da autora, ao evocar seus antepassados e presentificá-los no instante
reflexivo do atual cotidiano. A viagem a Israel é profícua – Clara retorna às origens; reconstrói
a história de seus antepassados, marcada pela perseguição e extermínio aos judeus, de onde brotam os temas para seus textos:
solidariedade, inclusão, liberdade, as relações do homem com a terra e sua
obstinação para fazer brotar vida do solo árido. O exílio, o extermínio e a
dispersão de seu povo transparecem nas alternativas para substituir o convívio
com os parentes desaparecidos. Clara volta à própria infância em Salva-dor, às
brincadeiras na área externa do prédio, aos cuidados da mãe e das "tias
adotivas".
"Sobre a educação" é quase um
ensaio sobre a formação plena da criança e do jovem, hoje, e a dificuldade de
inserção no mercado de trabalho. Clara enfatiza a educação para todos, de forma
democrática e universal. Ao conhecer a travessia do amigo Olímpio, do sertão
nordestino para o sul, a autora revê a caminhada de seus ancestrais e sua prosa
reveste-se de lirismo, pois a canção, que entremeia o relato, revela a força
dos fracos, que resistem e lutam para viver com dignidade. A gratidão da autora
aos antepassados é explícita ao saudar o avô, "meu Rei Salomão"... e
perceber a história de ontem ainda hoje, tão longe e tão perto...
As metrópoles surgem duras como pedras e
trazem o alheamento, até quando se convive no mesmo prédio, entre a indiferença
e o distancia-mento dos vizinhos, talvez
decorrentes do medo e da fragilidade diante dos perigos. Para Clara Sznifer
nada justifica essa atitude, pois é preciso ampliar o olhar e a solidariedade.
Em "A figueira da praça", o desejo de harmonia e de recuperação do
que foi perdido ao passar do tempo, a delicadeza, o amor e o bom senso,
levam-nos a caminhar nesse espaço e florescer como a velha árvore... E
esquecemos da rapidez e da pressa com que a mídia traz as notícias, priorizando
deslizes e superficialidades.
A leitura é mais descontraída diante de crônicas
humorísticas e repletas de ironia, ou assuntos
inesperados, como a inclusão "surreal" em uma das favelas
indianas, onde as crianças têm acesso a um computador com internet , por meio
de um buraco no muro! "Zabé da loca", apesar dos aspectos jornalísticos sobre a seca nordestina, é
pura nostalgia e sentimento na evocação do silêncio da mulher (que é a própria
gruta), contrapondo-se à música quando ela toca o pífano... A autora retoma a alegria do fazer na herança deixada por José Mindlin e espera
que frutifique entre nós.
A prosa de Clara, sempre afiada, traz a
ocupação irregular de solos instáveis
relaciona-da à letra da música "Águas de Março", levando-nos a
pensar numa premonição de Tom
Jobim. Faz crítica política e ambiental
e desnuda a complexidade do homem de atitudes irracionais ao devastar o biossistema,
alterando o equilíbrio ecológico e prejudicando a qualidade de sua própria vida
na terra.
Ao finalizar a leitura, respondo à pergunta
de um dos textos: Clara, fique tranquila!
O livro não vai sair de circulação! Não podemos ser impedidos de ter esta
" Prosa Afiada" em nossas mãos
para degustar calmamente cada palavra, num prazeroso folhear de páginas e
textos, num ir e vir reflexivo, neste
tempo de repensar as relações do homem com a terra, com o outro e consigo mesmo.
Regina
Alonso
Costelas Felinas - livros e revistas artesanais
http://artesanallivros.blogspot.com.br/
adquira diretamente com o autor(a) e receba em casa o livro autografado .
clsznifer@gmail.com
adquira diretamente com o autor(a) e receba em casa o livro autografado .
clsznifer@gmail.com
Comentários
MARCOS SILVÉRIO
Juju Leal