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VÓS, MULHERES! REBELAI-VOS - isac Machado de Moura

LANÇAMENTO MAIO 2017 - COSTELAS FELINAS
Bom... Por onde começar? Começarei dizendo que este prefácio será diferente do comum.  Na minha cabeça passa um filminho. E nesse filminho o autor deste livro é um dos personagens principais. Este filme se passa em meados de 2008, quando tive a honra de ter Isac como professor de Artes e Produção Textual. Hoje, com quase 21 anos, lembro-me, pequenininha, produzindo máscaras africanas de argila, sentada no chão da sala ou no pátio, enquanto este serzinho fofo fotografava a turma. Lembro também dos milhares de poemas que fazia, das aulas em que ele nos dava um tema e deveríamos soltar nossa imaginação e criar um texto seguindo o gênero aprendido no dia. Sempre calmo e sensato, Isac fez parte de uma das fases mais importantes da minha vida. Queria ser jornalista nessa época, para nunca deixar de escrever. Encontrei um professor que incentivava o correr da caneta no papel de forma livre e leve, sem perder sua autoridade enquanto mestre e sem fazer distinção entre aluno “x” ou “y”, e isso inclui também o gênero.
Não há palavras para mensurar a honra de estar prefaciando este livro, e peço perdão aos leitores por este prefácio emotivo e pessoal, mas não teria como deixar de fora esta ligação entre nós. Até porque este é o legado do educador para com seus educandos, não é mesmo?
Se este não é o primeiro livro de Isac que você lê, cara leitora e caro leitor, sabes muito bem o dom da escrita que esse carinha tem. Ler Isac é gostoso, parece que estamos conversando, batendo um papo, e quando percebemos,  o cara está nos enchendo de informações. Talvez por isso no início da minha graduação eu tenha sentido tanta dificuldade em escrever “difícil” academicamente falando. Isac me influenciou demais e isso não é brincadeira.
Logo de início, nos deparamos com um pequeno apanhado histórico apresentando um contexto breve de opressões sofridas pelas mulheres no decorrer da história, na Grécia, na Índia e no Oriente. Meu coração de futura historiadora/professora logo disparou! Achei o máximo! E é com esse sentimento que “Voz, Mulheres! Rebelai-vos!” irá te deixar durante toda a leitura.  Assuntos que deixamos de discutir por medo da resposta dos outros, da sociedade, medo de estragar o almoço de domingo em família, de problematizar a fala do mocinho da novela, o medo de ser chamada de “feminista” quando se questiona algo totalmente questionável sobre igualdade social – como se isso fosse ruim – são expostos ao longo de cada texto. Em “Voz Mulheres! Rebelai-vos!”, vemos um homem reconhecendo seus privilégios – coisa que não é comum – e falando sobre assuntos como a “coisificação” de nossos corpos femininos, o tabu da virgindade, as amarras da sociedade versus a liberdade do nosso próprio ser, dentre outros assuntos que devem ser levados a sério.
A leveza do texto e o humor das entrelinhas é fantástico, principalmente em momentos em que o autor “lembra” que é evangélico, como quando sente vontade de xingar o sistema patriarcal, o machismo e sua reprodução. Aliás, deveríamos ter mais pessoas religiosas como Isac no mundo! Onde já se viu um evangélico questionando a Bíblia e relativizando seus escritos? Aqui neste livro, veremos que entre Cristo e a Bíblia o autor prefere dar as mãos ao Cristo. Este, que se estivesse em terra hoje seria julgado a beça, coitado! (ele também veria um filminho passando na cabeça).  Não é esse cara barbudo que sempre está do lado dos menos favorecidos? Então isto quer dizer que ele está do lado das mulheres, da comunidade LGBT, dos negros e dos pobres. Ele está do lado de todos aqueles que sofrem, e ama a todos da mesma forma, sem distinção e em par de igualdade, diferentemente da conduta de muitas pessoas, inclusive religiosas.
“Voz Mulheres! Rebelai-vos!” me fez ter um flashback. Um filme relâmpago passando em minha cabeça, me fazendo lembrar o quanto amadureci enquanto mulher, porque não nascemos mulher, nos tornamos, como diz Simone de Beauvoir. Desde pequena tenho atitudes feministas, pois para mim nada mais do que igualdade de gênero quer dizer esta palavra. Mas hoje, com o avanço da tecnologia e todo esse aparelhamento das redes sociais e tudo mais, ao mesmo tempo em que esta nos trouxe avanços, nos trouxe junto o pensamento reacionário.
            Ao contrário de Isac, que se reconhece, enquanto homem branco, cheio de privilégios, outros não se reconhecem e acham que a luta e a demanda feminina não são nada menos do que “mimimi” e vitimização. Pois bem, é muito fácil quando não se sente na pele, não é mesmo? A falta de empatia reina neste mundinho masculino. E não julgo as mulheres que entram neste barco junto com os homens, estas apenas estão REPRODUZINDO o machismo e não sendo machistas. Existe uma diferença: estas não se beneficiam do machismo, pelo  contrário, mas como no imaginário da mulher que ainda não percebeu-se oprimida por um sociedade patriarcal, ela segue na linha do “bela, recatada e do lar” ou simplesmente não quer ser taxada de feminista para não ficar feio na rodinha, já que a moda é ser “Bolsomito” e dizer que o “mundo hoje em dia tá chato” e que “não dá nem pra fazer piada com mulher e negro que todo mundo enche o saco”. Devemos ler este livro e dizer para essas pessoas que: NÃO, o mundo não está chato! É que algumas pessoas deste mundo estão acordando para a realidade e percebendo o quão cruel ela é para determinados nichos na sociedade. E que algumas pessoas que sofrem na pele estão se REBELANDO contra estas atitudes vexatórias, preconceituosas e cruéis. O mundo tá chato porque existe uma minoria, que na verdade é maioria (mulheres e negros) criando voz, tomando o seu lugar de fala, se expondo e lutando contra amarras invisíveis que alguns dizem não existir porque simplesmente não sofrem OU se beneficiam desta estrutura opressora.
O filminho não acaba por aqui. Em determinada parte do texto, cara leitora e caro leitor, vocês se depararão com uma frase de Clarice Lispector,  que serviu de título para um texto meu, nas oficinas de produção textual do Isac, e que  lembro do quanto meu professor tinha gostado. Gostou tanto que até colocou na coletânea de poemas das turmas em que ele dava aula. Este texto se chama Grávida de Futuro. Eu deveria ter 13 ou 14 anos. Nossa... e eu já era feminista, hein!? Mesmo sem saber... Já almejava meu futuro brilhante pela frente. Estudar, ter uma casa, um carro e depois uma família. Com 13, 14 anos eu me sentia “grávida de futuro” e ainda me sinto assim. Ser feminista é querer viver livre, ser independente, amar, vestir, comer, ser o que eu quiser, sem ser desmerecida e silenciada, sem ser questionada se quero me casar ou não, se quero ter filhos ou não, se casei virgem ou não. Ser feminista é ter voz enquanto mulher, é cavar espaço no mercado de trabalho, mesmo ganhando menos pelo mesmo trabalho exercido por um homem. Ser feminista é não aceitar ser escrava de ninguém, principalmente do marido, porque certidão de casamento não deve ser nota fiscal, como o autor bem diz no decorrer do livro. Ser feminista é questionar os direitos que nos são negligenciados apenas porque somos mulheres. Feminismo é uma luta por direitos sociais, econômicos e políticos.
Além de ser grávida de futuro, também sou mais uma Nathália na vida do autor.
Leia, descubra e se delicie com este livro cheio de empatia e sensatez.   - prefácio por Rayane Catem


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