A POESIA QUE VIROU PROSA - Eu, Marginal me Confesso - por Narciso de Andrade e Deise Domingues Giannini
A POESIA QUE VIROU PROSA -
as palavras em negrito formam o poema de Narciso de Andrade e a autora Deise Domingues o transformou em prosa.
Eu, Marginal me Confesso :
As pessoas se comovem ao ver
o cenário triste na rua. E eu,
quando chego com os olhos úmidos, não é
sem razão,pois já tenho tudo o que eu quero, fico
sempre pedindo perdão. Sou
assim Comovo-me com essas coisas. Não tenho que pedir perdão, mas peço.
Eu me aproximo das pessoas e
quando as vejo com tanta carência, com tanta fome, sem carinho, fico
com lágrimas nos olhos. Acho
mesmo que todos deveriam ter seus direitos.
E quando chego então a um hospital? Para aliviar a
dor de alguém vou
inventando palavras dançarinas, para
ver se ajudo no que puder. Algumas pessoas ouvem,
elas se comovem. Outras nem ligam,
mas eu me esforço.
Por ser poeta e miserável eu comovo as pessoas. Fazer o que? Uso minha arma= minha palavra.
Eu, marginal me confesso igual
a todo mundo, sem tirar nem por. Uma pessoa
responsável pela dor alheia, pelo sofrimento
alheio,
por toda a tristeza do mundo. Será
que estou errada? Às vezes me falta uma palavra.
Essa inexplicável ausência se
justifica pelos meus devaneios. É porque vejo no jornal a matéria
de notícias do infinito.
Aiaiai, quantas coisas acontecem! Sei que algumas pessoas são sós.
Essa solidão perpétua não
sei a quem culpar. Isso é involuntário. Dizem que eu ganharia uma placa
em bronze gravada com meu nome. Mas
não sou assim vaidosa. Só quero dar um beijo
na testa de cada um que sofre, porque
aguentar sofrimento não é para qualquer um.
atividade CPL de Cláudia Brino
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