Quero refletir sobre um
aspecto da vida dos idosos – em locais privados e abrigos públicos
(em Salvador, de onde escrevo): o abandono afetivo.
Segundo a assistente social e pesquisadora na área de
gerontologia, Alicia Azevedo, que realizou um mapeamento, em 2016, em três abrigos privados e em um público, de
Salvador, os idosos que vivem nestes locais possuem pouco ou nenhum vínculo
familiar.
(Creio que a situação é a mesma em outras cidades.)
O maior centro de
acolhimento privados para idosos na capital baiana, é o Lar
Franciscano Santa Isabel, no bairro da
Saúde.
Segundo matéria do
jornal “A Tarde”, de Luciana Almeida, , 60% dos idosos que ali vivem,
mantém pouco ou nenhum contato
com a família.
No abrigo público Dom
Pedro II, no bairro de Boa Viagem, administrado pela Secretaria Municipal de
Promoção Social, Esporte e Combate à Pobreza
(Semps), a situação dos
abrigados é
semelhante.
30% deles não têm contato constante com parentes. 16%, não sabem sequer o paradeiro deles.
Dos 160 entrevistados pelos
pesquisadores, 87% não havia
recebido visita de familiares nos últimos
seis meses.
“São idosos
cujas famílias já faleceram ou que sofrem ‘abandono
afetivo’, ou seja, eles têm familiares que não
participam de forma ativa da vida, não se
dedicam aos cuidados destas pessoas”, explicou Alicia Azevedo.
O senhor Josué Neri, de
86 anos, nascido em Castro Alves (a 194 quilômetros
de Salvador),
não
escolheu morar no Abrigo Dom Pedro II, onde reside.
Ele foi abandonado nas ruas
da Cidade Baixa por um sobrinho, a quem se refere como “segundo
filho”.
O chamado “abandono
afetivo” não é incomum.
“As pessoas não estão dispostas a oferecer não
só cuidados pessoais, mas também carinho às pessoas
mais maduras que, nesta etapa da vida, estão mais
carentes de atenção”, diz a assistente social.
Alguém disse
que a maior tristeza do idoso, é não ser mais escutado.
Numa sociedade
mercantilizada, tão apegada aos bens materiais, onde as pessoas estão sempre apressadas, os idosos nada valem.
Muitos esquecem – é um lugar-comum verdadeiro – que se não forem “chamados” antes,
um dia serão idosos.
Mas o que podemos esperar
de uma sociedade onde o deus supremo é o mercado, que zele pelos seus
filhos?
(Salvador, maio de 2017)
postagem enviada pelo autor
Comentários
Como são precisos e sábios os comentários da Cris Dakinis.
Ela diz que o mundo envelhece, mas não amadurece. Pura verdade!
Sim, é preciso cuidar e amar dos nossos idosos, que um dia foram crianças - e desde cedo é preciso educar, amar e cuidar dos meninos e meninas que, um dia (se lá puderem chegar) serão idosos.
Obrigado, Cris!
"Lygia Fagundes Telles, nossa escritora de 92 anos, uma artífice das palavras, trabalhou a vida inteira com a literatura e concorreu ao Prêmio Nobel arrematado por Dylan. Restou a ela e aos outros fortes concorrentes disputarem o Grammy".
"Eu não sei quem levou o Prêmio Nobel de Medicina, mas espero que tenha tenha sido um médico".
Saudações :) haha!